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O melhor da BD de ficção científica atual passa por aqui…

Texto: NUNO GALOPIM

O segundo volume de “Trees” define um ciclo essencialmente focado entre Nova Iorque e as ilhas Órcades (na Escócia). Há mais marcas de ecos do mundo político em que vivemos numa trama que continua em busca de saber quem são aqueles estranhos visitantes…

Depois de longa espera eis que chegou finalmente o volume com a reunião dos comics que fazem o segundo ciclo narrativo de uma das mais inventivas e cativantes séries de ficção científica em curso no panorama atual da BD made in USA. Trees transporta-nos até um futuro não muito distante no qual o planeta Terra foi “invadido” por uma série de estranhas estruturas alienígenas em forma de altos troncos que se foram instalando um pouco por todo o lado, aos poucos a sua presença, aparentemente inerte a princípio, acabando por afetar profundamente as comunidades que habitam as regiões onde se instalaram. Sem comunicação qualquer com os visitantes, que de resto parecem ignorar quem habita o planeta, os visitantes marcam contudo bem presente a sua presença. E não há quem não fale das “árvores”.

No primeiro ciclo narrativo acompanhámos em paralelo o que acontecia em alguns pontos distintos do globo, reparando como cada sociedade, região e regime político definia um corpo ético sob o qual a história descia, depois, ao nível do indivíduo e dos seus comportamentos pessoais. E entre o Brasil, Itália, uma estação no ártico e uma cidade-laboratório na China, a trama evoluía levantando o seu desfecho uma expressão sinistra e inesperada quando, dez anos após terem chegado e ficado desde então inertes, as “árvores” parecem despertar…

A história está longe de resolvida neste segundo ciclo. Numa entrevista em 2015 o desenhador Jason Howard apontou que poderá chegar aos 23 comics… Já vamos a pouco mais de meio caminho, pelo que esta sua parceria com a escrita de Warren Ellis ainda nos poderá dar mais um ou dois volumes como os já publicados.


Apesar das linhas de continuidade, este segundo ciclo procura estabelecer uma relação diferente com a presença das “árvores”. As figuras do poder em Nova Iorque, que surgem no fim do volume um, são um dos dois polos da ação, revelando uma trama secundária que explora cenários de corrupção política, cabendo a um flashback um conjunto de memórias sobre a chegada dos visitantes. A outra protagonista surgira já no volume um. Trata-se da bióloga sobrevivente do acidente na estação polar que agora é enviada a estudar a única árvore em solo britânico, instalada nas ilhas Órcades (no norte da Escócia), e que levam um arqueólogo local a levantar hipóteses de um relacionamento antigo das “árvores” com o nosso planeta. Há ainda, numa fresta de três páginas, a indicação de que há mais uma figura sobrevivente dos acontecimentos trágicos ocorridos no número um. E, tal como a coisa termina, fica no ar a sensação de que o futuro que nos espera não é risonho. Nada risonho.

Com mais ingredientes políticos (e a presença de questões que marcam a nossa atualidade), o segundo volume cimenta as qualidades do primeiro e confirma a solidez narrativa desta narrativa sci-fi desencantada de Warren Ellis. O traço, propositadamente pouco polido (porque reflete um futuro igualmente mais anguloso e menos nítido do mundo em que vivemos) de Jason Howard é o seu parceiro perfeito… Até quando esta série viverá apenas entre as páginas dos comics sem que alguém repare que está aqui um filme à espera de nascer?

“Trees (vol 2) – Forests”, de Warren Ellis e Jason Howard, que junta os comics 9 a 14 desta série, é uma edição de 128 páginas da Image Comics

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