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“Taboo”, uma lição bem estudada

Texto: NUNO CARDOSO

Com estreia em Portugal hoje no AMC, o drama de época protagonizado por Tom Hardy e produzido por Ridley Scott pode ser o contra-ataque da ficção britânica no período pós-ressaca de “Downton Abbey”.

Numa altura em que ainda se sente a ressaca de uma era pós-Downton Abbey, há que encontrar alternativas para continuar a manter a ficção britânica no mapa. The Crown e The Halcyon têm sido duas portas abertas nesse caminho, pelo orçamento e aplauso da crítica que têm recebido, mas faltava um produto que fugisse do universo opulento destas duas e optasse por um rumo mais cru e, assim, mais distante da galardoada série de Julian Fellowes.

Taboo, o novo drama de época com a chancela da BBC, e com a primeira temporada a estrear-se em Portugal este domingo às 22h10 no canal AMC, pode ser reposta para colmatar essa lacuna. O pontapé de partida é dado por James Delaney (interpretado por Tom Hardy), um homem que retorna a casa, em Londres, em 1814, para vingar a morte do seu pai, depois de ter sido dado como morto e de ter passado os últimos 12 anos em África. O seu regresso, acompanhado de doze preciosos diamantes no bolso e a espiritualidade e o conhecimento que ganhou além-fronteiras, não só vai chocar familiares e a população londrina como vai afetar profundamente as relações políticas e diplomáticas entre o Reino Unido e os EUA, uma vez que Delaney herda algo que ambos os territórios ambicionam.

A série com a chancela da BBC é uma mistura de amor, ódio, vingança, política, guerra, escravatura, traição, família, prostituição, estatuto social e económico, xenofobia, travestismo e feitiçaria, ao longo de oito episódios de uma hora cada, e é, acima de tudo, o resultado de uma lição bem estudada por parte dos responsáveis da estação pública britânica.

Pode não ser inocente o facto de, ao vermos Taboo, reconhecermos certos elementos de algumas das séries mais populares da atualidade. As batalhas territoriais, alguma linguagem, o guarda-roupa e até o incesto que nos fazem lembrar A Guerra dos Tronos, as estratégicas e politiquices de House Of Cards, o constante fator de sobrevivência de The Walking Dead ou um homem visto como um perigo para a nação e na mira do governo à la Homeland.

E mesmo reunindo estes ingredientes, Taboo não cai nos facilitismos e deixa os clichés de parte, mantendo uma identidade sui generis. Basta ver os primeiros episódios para se perceber que há poucas projetos assim na televisão neste momento. Pela combinação de três razões fundamentalmente: quer pela estética obscura e tensa que a série comporta (cunha de Kristoffer Nyholm, realizador responsável por The Killing), como pela delicada banda sonora, autoria do alemão Max Richter, ou pelo principal pilar da série, a personagem à qual dá vida o inglês Tom Hardy – que é também um dos criadores, argumentistas e produtores. Uma interpretação com várias camadas na sua personalidade e atitudes, que ora é sensível ora é violento, nunca totalmente o herói nem o mau da fita, e que transmite tanto nos silêncios como nas palavras, dando-lhe profundidade e aguçando, assim, o interesse dos espectadores para o futuro.

A expectativa da BBC em torno de Taboo é visível na equipa que a compõe, e da qual fazem parte, por exemplo, o veterano e galardoado Ridley Scott como um dos produtores, assim como os atores Jonathan Pryce e Ona Chaplin (ambos ex-integrantes de A Guerra dos Tronos), Michael Kelly (House Of Cards), Mark Gatiss (Sherlock) ou Jefferson Hall (Vikings).

A sede de vingança, o poder político e as consequências de uma família destruída parecem ser, em primeira análise, as principais temáticas que dão combustível a esta série.

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