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As odisseias de Arthur C. Clarke

Texto: NUNO GALOPIM

Passam hoje cem anos sobre o dia do nascimento de Arthur C. Clarke. Para assinalar o seu centenário lembramos algumas das suas obras e, em particular, a tetralogia que teve como primeira parte o trabalho que desenvolveu com Stanley Kubrick em ‘2001: Odisseia no Espaço’.

Sobretudo reconhecido pelo argumento do histórico filme de Stanley Kubrick 2001: Odisseia no Espaço (que ele mesmo também adaptou ao formato de romance, editado no mesmo ano da estreia, ou seja, 1968), Arthur C Clarke (1917-2008) foi um dos mais importantes e aplaudidos autores de literatura de ficção científica.

Nascido em Minehead, em Minehead (Somerset, Reino Unido), a 16 de Dezembro de 1917, cumpriu parte do serviço militar na RAF como especialista em radares, somando então breves episódios de uma etapa ligada à investigação científica que dele fez ainda o autor de um dos principais contributos para a criação do satélite de comunicações. Foi também autor de curiosos ensaios de antecipação científica sobre a exploração do espaço nos anos 50, antes mesmo do lançamento das primeiras missões não tripuladas. O seu nome foi dado a um asteróide e a um prémio de literatura de ficção científica, cuja primeira edição teve lugar em 2005.

Antigo leitor de pulp magazines, começou a publicar ficção em 1946 na Astounding Science Fiction. Mudou-se em 1956 para o Sri Lanka, aí assinando a maior extensão dos títulos de uma obra que consagra uma visão positiva da presença humana no espaço e reflete frequentemente sobre a eventual relação do homem com povos alienígenas ou as marcas das suas civilizações.

Pioneiro de diversas temáticas depois vulgarizadas, Clarke foi dos primeiros a levantar o receio de impactes catastróficos de corpos na Terra (The Hammer Of God) ou a possibilidade de vida em Europa, satélite de Júpiter (em 2061: A Terceira Odisseia). A dada altura dedicou atenção aos fenómenos paranormais, preocupações registadas na série televisiva dos anos 80 O Mundo Misterioso de Arthur C Clarke.

Apesar da notoriedade de 2001: Odisseia no Espaço,o seu mais importante romance é talvez Rendez-Vous Com Rama , porta de uma série que explorou cenários de contacto com outras civilizações e suas tecnologias. Coube contudo a 2001: Odisseia no Espaço o seu momento de maior notoriedade global, devendo ser-lhe reconhecidos parte dos méritos do filme de Kubrick.

Poucas vezes o cinema e a literatura de ficção científica souberam andar de mãos dadas. Se ao longo da história da sétima arte podemos encontrar exemplos maiores de adaptações inspiradas e muito pessoais em casos como Things To Come de William Cameron Menzies (a partir de The Shape of Things To Come, de H. G. Wells), Solaris de Andrei Tarkovsky (com ponto de partida no romance homónimo de Stanislaw Lem) ou Blade Runner de Ridley Scott (que nasceu do conto Do Androids Dream Of Electric Sheep?, de Philip K. Dick), em 2001: Odisseia no Espaço encontramos um raro caso de criação conjunta entre um realizador e um escritor. Arthur C. Clarke trabalhou diretamente com Stanley Kubrick o desenvolvimento do argumento, o livro nascendo assim ao mesmo tempo que o filme ia ganhando forma.

Na verdade há havia palavras antes das primeiras imagens serem sequer imaginadas. A ideia base para 2001 surge num conto que Arthur C. Clarke escrevera em 1948 e que fora originalmente publicada numa pulp magazine em 1951. Sentinel of Eternity falava de uma pirâmide colocada na Lua que, durante séculos, enviara sinais para um ponto distante. O que aconteceria no momento em que a transmissão fosse interrompida? Deste e de outros contos (como Encounter in the Dawn, de 1953) Clarke e Kubrick partiram para a criação do argumento que serviria de base ao filme e que conheceria versão na forma de romance que teria primeira publicação em 1968, o mesmo ano em que o filme chegou aos ecrãs das salas de cinema.



Mas Arthur C. Clarke resolveu continuar a narrativa, publicando em 1982 a sequela 2010: Odissey Two, que conheceria uma adaptação (menor) ao cinema em 1984 na qual são retomadas algumas personagens e, sobretudo, os espaços da nave Discovery. Em 1987 o livro 2061: Odissey Three retomou a narrativa, projetando a acção 51 anos mais tarde. Júpiter transformou-se numa pequena estrela e o gelo em Europa derreteu, mostrando agora o planeta uma atmosfera. A história evolui em torno de uma estrutura que é detetada na superfície de Europa e que se descobre ser um gigantesco diamante, projectado por Júpiter aquando do evento de 2010 que o transformara em estrela. A tetralogia terminaria em 1997 com a publicação de 3001: The Final Odissey, que não apenas revelava o que são os monólitos e a civilização alienígena que os criou, como recuperava a figura do astronauta que é lançado para o espaço em 2001 e que, vagueando inerte, congelado, durante mil anos, é encontrado na Cintura de Kuiper e depois reanimado. O terceiro e quarto volumes da série chegaram a chamar algumas atenções em Hollywood, mas uma adaptação de qualquer um deles nunca sequer entrou em pré-produção.

2 Comments on As odisseias de Arthur C. Clarke

  1. Bom dia
    Texto deveras interessante. Só uma nota (espero que não leve a mal): Europa é uma lua de Júpiter.

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