Mil histórias, mil canções
Texto: JOÃO MORGADO FERNANDES
A primeira grande foto da edição especial é de Catherine Deneuve, cigarro em punho, a desafiar a proibição de fumar num hotel. Há uma foto de Leonard Cohen, em rigor de monge budista, a abrir um portfolio em que 23 fotógrafos contam a sua sessão mais marcante. Isabelle Hupert a dizer que a maior parte dos DVD e CD que tem em casa foi por culpa da revista. Os bastidores de uma entrevista a Damon Albarn, em que os jornalistas queriam conhecer a génese dos personagens dos Gorillaz e o músico lhes responde: não me compete mim dizer-vos, o melhor será perguntar-lhes diretamente…
E há uma foto de João César Monteiro, bruxa montada numa vassoura, com a legenda: “Lembro-me de João César Monteiro. Gostaria que fossemos muitos a lembrarmo-nos desse génio absoluto”.
Começam todas por “Lembro-me de que” (Je me souviens), as 1000 (sim, mil…) memórias com que a revista francesa Les Inrockuptibles assinala o seu 1000.º número.
São mil histórias, memórias, fotografias, momentos apenas curiosos, outros grandiosos que fazem esta edição histórica. Na verdade, um autêntico manifesto da revista semanal que, há duas décadas, veio trazer uma outra maneira de olhar a música, o cinema e a literatura, sob um prisma assumidamente político.
Mas, se a revista é um exuberante documento para arquivar, não menos interessante é a forma como Les Inrocks assinala o momento na seu site: uma seleção – “afectiva”, dizem eles – dos melhores mil momentos da história da música. Na prática, mil canções, obviamente com especial incidência na música pop-rock das últimas décadas.
Dessas mil canções, a revista escolheu as cem melhores. As restantes 900 estão organizadas em cinco áreas, também elas simbólicas das apostas editoriais da publicação: “classique, mélancolique, rage, extase, dark”.
No site, é possível navegar pelas canções, ouvir excertos, ver vídeos e colher alguma informação básica. Horas e horas de (re)descoberta.

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