Cool australiano
Andras Fox (Andy Wilson) é um australiano de 26 anos com ar de desenho animado, DJ, coleccionador de obscuridades em vinil e animador de rádio. Faz música sob diferentes identidades (Andras Fox, A.r.t. Wilson…) mas matriz é quase sempre a mesma: boogie funk, deep house e electrónica hipnótica ao retardador, sempre em tom retro mas, no caso de A.r.t. Wilson, com um pendor ambiental muito vincado que o aproxima da new age. O rótulo está bastante estragado mas não há que ter medo da palavra. A new age também pode ser experimental, library music, dub, jazz… No caso de A.r.t. Wilson é isso e ruídos de pássaros e água que ajudam a criar uma fantasia que pode ser tão esotérica e espiritual quanto se queira (quem queira, pode ser só musica de fundo e soará perfeita na mesma). Overworld foi inicialmente composto para um espectáculo de dança e é todo feito com caixa de ritmos e sintetizadores, produção minimal mas intrincada que resulta num disco harmonioso, encantador e infecciosamente bem-disposto, num sentido pacificador. Foi Overworld que começou o buzz. A primeira edição foi em cassete, tornou-se de culto e, no final de 2014, ressurgiu em irresistível vinil cor-de-rosa. Um disco realmente bonito, onírico mesmo, entre os mais desafiantes de 2014. Cronologicamente foi o primeiro dos três editados por Andras Fox/A.r.t. Wilson no ano passado. Vibrate on Silent, a solo, e Café Romantica com o cantor Oscar Key Sungs fecham o triângulo.
Vibrate on Silent está bastante perto de Overworld mas é mais lounge do que new age, mais lúdico do que contemplativo, embora igualmente absorvente. Café Romantica é house açucarada, romântica e sensual, com assomos de soul, jazz e easy listening ao serviço da pista de dança (real ou imaginária).
Seria fácil pensar que, por ser australiano, Andras Fox pertence a alguma das correntes musicais que no resto do mundo são tomadas como dominantes no território: a pop electrónica enérgica de uns Cut Copy por um lado, ou a indie electrónica mais lenta de Chet Faker ou Flume, por outro, mas, na verdade Andras Fox não parece pertencer a nenhum clube (apesar de fazer parte da compilação Oceans Apart dos Cut Copy com novos valores de Mellbourne, mas conta sobretudo a geografia). A abordagem de Andras é mais laboratorial, mais geek, lembra Luke Vibert no método, a bedroom music dos anos 90 que redescobria os pioneiros da electrónica, mas também evoca coisas de chill out (agora diríamos baleárico) como Sven Van Hees, ou deep house clássico, ou Vangelis, Brian Eno, hip hop, funk… Não é preciso arrumá-lo em nenhuma prateleira, Andras Fox faz feel good music em tempos difíceis, suave como veludo e quente como o sol. Irresistível. – Isilda Sanches
A.r.t. Wilson
“Overworld”
Growing Been
( 5 / 5 )
Andras Fox
“Vibrate on Silent”
Mexican Summer / Popstock
( 5 / 5 )
Andras & Oscar
“Cafe Romantica”
Dopeness Galore
( 4 / 5 )
A autora do texto escreve segundo a antiga ortografia

Muito bom texto. Parabéns.
GostarGostar