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Sara Carinhas revisita ‘As Ondas’, de Virginia Woolf

A peça, baseada no romance de Virginia Woolf, estreia esta quinta-feira, dia 15, no Teatro Municipal São Luiz, e por ali fica até 24 de janeiro.

Depois de terminar Rumo ao Farol, Virginia Woolf escreveu no seu diário, a 21 de fevereiro de 1927, que queria inventar uma nova forma de escrita “livre; porém concentrada; prosa mas poesia; um romance que é também uma peça”. Em julho de 1929, começava a escrever As Ondas, considerada a sua obra-prima, que viria a terminar dois anos depois, em 1931.

Num artigo publicado no The Guardian (2006), Katie Mitchell (n. 1964), uma das mais prestigiadas encenadoras britânicas, escrevia que a frase de Virginia Woolf era “irresistível para um encenador”, porque “validava a tentativa de fazer uma performance a partir de um romance”. Dizia também que Woolf “tinha claramente um fascínio pelo teatro”, como sugeria a personagem de Miss La Trobe do seu último romance, Entre os Actos. Miss La Trobe tenta encenar toda a história da civilização num concurso de aldeia.

Nesse ano, Mitchell, em colaboração com o video artist Leo Warner, levava ao palco do National Theatre de Londres uma adaptação multimédia de As Ondas. O romance acompanha a vida de seis amigos – Bernard, Neville, Louis, Jinny, Susan e Rhoda – desde a infância até à maturidade. Há ainda uma sétima personagem, Percival, que a todos fascina, mas que nunca escutaremos, a não ser a partir das outras personagens.
Mitchell transformou o romance de Woolf num concerto visual, manipulando, ao vivo, som e imagem. Lyn Gardner, crítica do The Guardian, referiu-se à adaptação da encenadora britânica como “aquela besta que raramente avistamos, uma performance onde o teatro e o vídeo se unem de uma forma tão perfeita e complementam-se de uma forma tão intensa, que é como se Mitchell, actores e Leo Warner tivessem criado uma nova forma de arte”.

Não era, obviamente, a primeira vez que alguém adaptava o romance da autora inglesa ao teatro. Anne Bogart, a muito premiada encenadora de teatro e ópera, fizera-o em 1977. A peça, uma co-produção do Theater for the New City e do The Iowa Theater Lab, esteve em Nova Iorque, Canadá, Califórnia, Wisconsin e Pensilvânia. Foi uma das primeiras adaptações (ou talvez mesmo a primeira) do romance. Anos depois, em 1990, David Bucknam e Lisa Peterson concretizavam uma nova adaptação, um musical que haveria de ter estrear no Perry Street Theater, em Nova Iorque.

Depois da adaptação de Mitchell, seguir-se-iam outras. Em 2010, o canadiano Brenley Charkow, escritor, encenador e ator, apresentava uma peça concebida a partir do romance no Factory Theatre de Toronto, no contexto do festival de teatro Toronto Fringe Festival. Em 2012, Dave Spencer, encenador e dramaturgo, repetia o feito, com a apresentação da sua peça a ter lugar na capela da Universidade de Durham, em Inglaterra. Um ano depois, em 2013, Allyson McKackon, directora da companhia Theatre Rusticle, levava ao palco do teatro Buddies in Bad Times Theatre, também em Toronto, uma adaptação muito livre do texto de Woolf, com o título Dinner at Seven-Thirty.

No ano passado, foi a vez de Sara Carinhas, atriz e encenadora, apresentar um espetáculo criado a partir de As Ondas. A peça estreou na sala dos Primeiros Sintomas, no Cais do Sodré (Lisboa) e vai estar em reposição no Teatro São Luiz de 15 a 24 de janeiro. Do elenco fazem parte Cristina Carvalhal, Lígia Roque, Marcello Urgeghe, Miguel Loureiro e Sofia Dinger.

Sara Carinhas, recorde-se, foi protagonista em A Farsa, a peça que a companhia Karnart estreou no ano passado no Teatro Nacional D. Maria II, baseada no livro de Raul Brandão. A atriz e encenadora estreou-se no teatro em 2013. Trabalhou com Cristina Carvalhal, Beatriz Batarda, Ricardo Pais e, no cinema, com Alberto Seixas Santos, Manoel de Oliveira, Rui Simões, entre outros realizadores.- Helena Bento

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