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Ghost Culture, ‘Ghost Culture’

Depois de três promissores máxis, o álbum de estreia de Ghost Culture evoca a ‘techno’ de Detroit e os pioneiros das eletrónicas dos anos 70 e 80 numa belíssima coleção de canções.

Texto: NUNO GALOPIM

A história começou com os tons de secretismo que tantas vezes têm acompanhado a chegada de novos nomes, sobretudo entre os caminhos das novas electrónicas. Mas depois dos mistérios dos primeiros tempos, um nome e uma imagem entraram em cena. E, sem distrações, o discurso voltou-se para a música (e ainda bem). Os eventuais fantasmas que possam assim habitar hoje a música deste projeto do londrino James Greenwood são os que a sua música pode evocar. E há muitos, mas longe de assombrados, entre um álbum de estreia que dele faz a primeira (boa) surpresa de 2015.

Com o título Ghost Culture, o álbum que apresenta – após alguns máxis – o projeto com o mesmo nome, é um delicioso mundo feito de reencontros com algumas das grandes heranças da música electrónica, com particular gosto pela evocação não apenas dos sabores de teclados analógicos dos pioneiros dos setentas, como também da arquitetura da tecno de Detroit. A força maior das propostas de James Greenwood está todavia numa evidente capacidade em talhar canções tanto em clima cinematograficamente ambiental – como se escuta em Glaciers ou no belíssimo The Fog – como quando o geometrismo herdado do tecno (mas sem a pista de dança como destino inevitável) sustenta outros instantes do álbum, como os que escutamos em Mouth ou Lucky.

Mais um caso nascido no quarto, entre a solidão, as ideias e as máquinas que ali foi juntando, Ghost Culture evoca frequentemente esse saber na relação das electrónicas e dos métodos da dança com a canção como, em finais dos 80 e inícios dos anos 90 encontrámos nos magníficos (e injustamente esquecidos) The Beloved. De resto, o tom mais melancólico que frágil da voz lembra aqui uma postura semelhante de Jon Marsh (o vocalista dos Beloved). Quem sabe se, por um dos primeiros grandes discos da pop electrónica de 2015 nasce a vontade em recuperar os Beloved e alguns dos seus contemporâneos (um pouco como o espantoso disco de Disclosure fez por episódios históricos do deep house). Afinal, a música é uma história que, como o tempo, caminha sempre em frente. Mas que está cheia de atalhos que por vezes nos devolvem ideias, sons e nomes de outros tempos.

Ghost Culture
“Ghost Culture”
Phantasy / Because
( 4 / 5 )

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