Um quarto feito de memórias
Texto: NUNO GALOPIM
“Quando me perguntam como é ser um ícone rock’n’roll sinto que me estão a pôr no Mount Rushmore”… Não me esqueço destas palavras. Foram contadas por Patti Smith e podemos reencontrá-las na edição em DVD de Patti Smith: Dream of Life, filme de Steven Sebring que mora entre os melhores exemplos de atenção pela música popular alguma vez vindos dos universos do cinema documenta. Ouvi-as (vi-as) pela primeira vez num fim de tarde numa das grandes salas do complexo Cinestar que mora por baixo da Praça Sony em Berlim, em plena edição de 2008 da Berlinale. O filme passava entre os muitos outros documentários que habitualmente são apresentados na secção Panorama. E, no final, ela mesma surgiu na sala para, tão informal como no filme, informalmente responder a algumas perguntas. As imagens no ecrã continuavam assim, agora à frente dele, fazendo de um presente ali habitado por várias centenas um percurso pela memória que, sem convocar a nostalgia fácil, nos deu a entender que há gentes e factos que fazem quem somos. E é essa a alma de Dream of Life.
O filme tem como coluna dorsal 12 anos de imagens que o fotógrafo Steven Sebring colheu junto da cantora. Imagens de palco, dos bastidores, captadas em trânsito ou em família… E é nesse movimento pendular entre o espaço público e o privado que reencontramos as marcas daquele mesmo espírito informal, mas profundo de sentidos com que ela mesmo ali se apresentava em Berlim. No fundo já o “sabíamos” de escutar a sua música e ler a sua poesia.
Dream of Life é um percurso por memórias. E, como se fosse o refrão de uma canção, o filme regressa recorrentemente a um quarto branco onde, de máquina fotográfica nas mãos, Patti Smith acumula objetos (que vai fotografando). E assim recorda as pessoas e histórias a eles associados.

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