Um imperador sem reino à vista
Texto: ANDRÉ LOPES
Depois do insucesso comercial e artístico dos últimos discos – The High End of Low (2009) e Born Villain (2012) – a notoriedade de Marilyn Manson é hoje uma realidade danificada e, enfim, quase inexistente. O vigor do tríptico de Antichrist Superstar, Mechanical Animals e Holy Wood não passa atualmente de uma recordação daqueles que foram os melhores anos de uma carreira irregular, esquartejada por polémicas e controvérsias típicas de quem não sabe ainda onde quer chegar.
Desde sempre sonhando ser um vulto comparável a David Bowie, na realidade as afinidades artísticas de Marilyn Manson aproximam-se mais de figuras menos requintadas como as de Alice Cooper ou Iggy Pop. Com uma banda em constante mutação, a sua figura central exacerba um ethos tão próprio que muitas vezes é esse o único elemento que garante senso e coesão aos discos. Ethos e claro, produtor… Outrora associado a Trent Reznor ou Sean Beaven, Marilyn Manson planeou para The Pale Emperor um álbum rock’n’roll de cariz industrial, robusto e completo.
O nono álbum de originais é anunciado como um disco “de blues” mas a realidade afasta-se dessa premissa, algo já recorrente no repertório de Manson. Recorde-se The Golden Age of Grotesque (2003) que saudaria o espírito dos cabarets europeus dos anos 20 e na verdade resultou num repetitivo disco de nu-metal.
A tarefa de composição de canções do novo disco foi deixada a cargo de Tyler Bates, alguém responsável por bandas-sonoras de séries televisivas, videojogos ou filmes como Guardians of the Galaxy, que vem criar um conjunto de faixas muito pouco dado à noção de diversidade sonora. Numa base estanque estabelecida entre guitarra, baixo, bateria, com teclas a servirem de bónus ocasional, há pouca vitalidade a fazer-se ouvir no alinhamento.
The Pale Emperor peca especialmente pela insistência na fórmula que assume como possível assentar canções inteiras numa combinação de percussão e baixo-elétrico num clima que se pretende “tribal”. Algo típico de outras épocas (recordem-se The Beautiful People ou Disposable Teens), mas que em 2015 falha em convencer. The Mephistopheles of Los Angeles ou Slave Only Dreams to be King são esforços vãos em busca de uma vitalidade que não chega a ser encontrada. Num álbum que não inova nem arrisca Manson encontra ainda assim alma num rock pouco transgressivo.
Apesar da solidez expressa pela homogeniedade musical de The Pale Emperor, vemo-nos mais uma vez diante de um álbum preso a maneirismos antiquados e que falha em encontrar o substrato necessário à fertilidade dos discos mais vitoriosos de Marilyn Manson.
Marilyn Manson
“The Pale Emperor”
Cooking Vinyl
2/5

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