Sessão da meia-noite: A “claysploitation” de Lee Hardcastle
Texto: JOSÉ MIGUEL SARDO
Frente a um tribunal, Lee Hardcastle poderia evocar uma circunstância atenuante infalível, caso fosse confrontado com o choque de alguns espetadores mais sensíveis aos seus vídeos. O realizador poderia ser acusado, com razão, de reunir na sua página pessoal do Youtube algumas das situações mais horrendas habitualmente censuradas pelos sites da internet. Da degolação de um porco com uma moto-serra, à forma como uma criança assiste ao massacre dos pais numa casa de banho, passando por inimagináveis mutilações, os filmes de claysploitation, um género inventado pelo autor, denunciam um certo fascínio, em Hardcastle, pelas entranhas do ser humano. Obviamente que as imagens relacionadas com fantasmas, espíritos, monstros de toda a espécie e metamorfoses improváveis, não constariam do auto de acusação. Num tribunal, mesmo um dos mais assustadiços juízes absolveria Lee de todos estes “crimes”, ao constatar que, na realidade, o sangue não passa de plasticina.
O realizador, cujos vídeos já foram vistos por vários milhões de pessoas na Internet, recorre à técnica de animação com plasticina para encenar algumas das cenas mais terríveis do cinema de terror, e em especial do género gore. Um Massacre da serra elétrica num cenário de Wallace & Gromit. Se um espectador poderia elogiar filmes como T for Toilet da série O ABC da morte como uma forma divertida de conseguir encarar os seus próprios terrores, o autor, contatado pela MdE é muito menos poético quando explica a escolha da plasticina: “sempre quis fazer filmes, e em especial filmes de terror, antes de começar a fazer animação com plasticina. E quando comecei a fazer filmes de animação foi porque era mais fácil de realizar este tipo de filmes do que fazer uma grande produção. Aproveitei essa oportunidade para concretizar as minhas ideias com este tipo de animação, e como teve sucesso na Internet, decidi continuar a fazê-lo”.
Lee considera-se mais um “artista” do que propriamente um realizador. O autor com uma visível “sede de sangue”, voltou há algumas semanas a ameaçar baralhar todo o tipo de julgamentos, ao publicar uma nova curta de animação – Frozen- Blood Test Scene – inspirada numa sequência do filme The Thing de John Carpenter. Horrível, mas longe de qualquer condenação, Hardcastle recorreu às personagens do filme de animação da Disney, Frozen, para recriar a cena do filme de Carpenter, em que Kurt Russell faz análises de sangue a vários cientistas para saber quem foi infetado pelo virus d’A Coisa. O sanguinário horror terno com que Lee Hardcastle “dá o litro” merece, sem dúvida, um género à parte.
Lee Hardcastle em quatro filmes:
Frozen- Blood Test Scene
Quando Carpenter assalta o universo Disney com um bastão de dinamite e uma mutante de dentes bem afiados.
Da série “O ABC da morte”, “T is for Toilet”
Um dos filmes mais vistos na rede de Lee Hardcastle e um dos mais delirantes. A história de um rapaz que tem que enfrentar a sua primeira ida à casa de banho com algum terror, perfeitamente justificado no filme.
Drub Bust Doody
Um dos mais sanguinários filmes de Lee, numa paródia a um filme de ação que termina num verdadeiro banho de sangue no limite do horror, graças à plasticina.
Love Automatic – Nightmare
Um grupo de “caçadores de fantasmas” junta-se num apartamento para enfrentar uma perigosa assombração.

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