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Um cruzamento de gerações à volta do cancioneiro americano

Texto: ANDRÉ LOPES

Lady Gaga e Tony Bennett juntam-se em palco para uma impressionante mostra de talentos que evoca, sem saudosismos, as glórias de outras épocas.

Foto: Joseph Sinnott/THIRTEEN Productions LLC

Se muitos ficaram surpreendidos pela prestação de Lady Gaga na última cerimónia dos Óscares, na qual demonstrara uma capacidade vocal que é rara nas estrelas pop da atualidade, tal não terá sido particularmente inesperado para quem acompanha o trajeto da artista americana na indústria da música. Basta recordar o seu primeiro dueto com Tony Bennett, The Lady is a Tramp que integrou o alinhamento de Duets II, disco que o veterano americano lançou em 2011. Em 2014, o par juntou-se para Cheek to Cheek – um álbum de versões de alguns dos grandes clássicos do cancioneiro norte-americano: originais de Cole Porter, Duke Ellington, ou Jimmy Van Heusen foram então re-imaginados com o propósito de divulgar estas canções junto das novas gerações.

Criado a pensar no registo típico das big bands de jazz com secção de metais e juntando mesmo uma orquestra, o álbum conta com recriações notáveis das melodias outrora cantadas por vozes como as de Sarah Vaughan ou Donna Summer. O registo que nos chega agora em DVD como Tony Bennett and Lady Gaga: Cheek to Cheek Live! segue a premissa indicada pelo título ao dar-nos acesso ao concerto que decorreu em Setembro passado, no Lincoln Center for the Performing Arts. E as imagens evidenciam a forma como a relação de cumplicidade que nasceu entre os dois artistas tem um retorno tão fértil em termos criativos.

Num palco desenhado e iluminado segundo as perspetivas estéticas de Robert Wilson uma enorme tela é predominantemente iluminada com tons de azul durante grande parte do espetáculo. Os vultos dos músicos da orquestra surgem como silhuetas negras, criando-se uma atmosfera hollywoodesca que mais tarde será reforçada pela presença de dançarinas em palco.

Com um alinhamento obviamente assente em duetos de Lady Gaga com Tony Bennett, há ainda espaço para que cada um dos intérpretes enfrente a solo algumas canções – sendo nessas ocasiões que as surgem as prestações mais impressionantes, com Bennett a assegurar um final triunfante a How do you keep the music playing. Lady Gaga, por seu lado, assina uma versão irrepreensível de Lush Life (anteriormente associada a Donna Summer ou Natalie Cole).

Algumas das versões têm um brilho demasiado diferente das originais: em Bang Bang (My Baby Shot Me Down) a subtiliza da canção de Cher (ou da versão popularizada por Nancy Sinatra) foi trocada por um arranjo que confere maior protagonismo ao piano, terminando numa competição exagerada entre a voz de Gaga e o trompete.

Contundo, a facilidade com que Lady Gaga se adapta a este tipo de registo vocal tem tanto de natural como de surpreendente. Algo que juntamente com os solos de guitarra que ouvimos em Nature Boy e But Beautiful e o confronto entre trompete e saxofone no final do concerto com It Don’t Mean a Thing (If It Ain’t Got That Swing), faz deste DVD um peça que celebra de igual modo o talento de todos intervenientes e a qualidade intemporal destas canções.

Tony Bennett and Lady Gaga: Cheek to Cheek Live! 
Realização: David Horn
DVD e Blu-ray, Interscope
4 / 5

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