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Manuela Moura Guedes, a episódica estrela pop

Texto: ANDRÉ LOPES

Lançado em 1982 na sequência do sucesso de ‘Foram Cardos, Foram Prosas’, o álbum ‘Alibi’ é o único registo longa-duração editado por Manuela Moura Guedes numa carreira artística de término precoce.

Em tempos considerado um objeto de culto e uma raridade discográfica, o álbum de Manuela Moura Guedes foi reeditado no formato CD em 2007 através do projeto “No Tempo do Vinil”, que colocou no mercado vários dos discos que marcaram o pop/rock português e que até então só existiam nas edições originais em vinil. Para além de Alibi, esse projecto de reedições incluiu, entre outros, Independança – o primeiro álbum dos GNR, na altura constituídos por Alexandre Soares, Miguel Megre, Vítor Rua, Tóli César Machado e Rui Reininho. Os três últimos foram responsáveis pela escrita da letra e música de Alibi, bem como pela sua produção. Manuela Moura Guedes dava então a sua voz às dez canções que compõem o álbum.

Manuela Moura Guedes começou a fazer televisão em 1979, o mesmo ano em que se estreia em disco com o single Conversa Fiada. Em 1980 lança um segundo, Sonho Mau, tal como o anterior no catálogo da Nova. Na música ganha maior visibilidade quando, em 1981, edita o single que inclui Flor Sonhada e Foram Cardos, Foram Prosas – duas canções da autoria de Ricardo Camacho e com letra escrita por Miguel Esteves Cardoso. Editado pela Valentim de Carvalho, o disco atingiu vendas perto dos 35 mil exemplares, sendo um dos singles nacionais mais vendidos de 1981.

Em 1982, os GNR lançavam (também pela Valentim de Carvalho) o seu primeiro disco de longa-duração. Independança revela uma banda pronta a experimentar e a fugir das convenções a que o formato da canção pop tendia a obrigar. A editora que partilhavam com Manuela Moura Guedes sugeriu então uma proposta de projeto conjunto entre os GNR e a cantora.

Dessa colaboração surgiu Alibi, um disco que reaproveita parte das ideias que estiveram na génese de Independança, com alguns dos seus motivos de guitarra e baixo a serem adaptados para canções como Cocktail-Party ou Procuro um Alibi. Manuela Moura Guedes mostrou ser a intérprete perfeita para letras que, ao serem menos politizadas do que aquilo que era característico dos GNR pré-Independança (com Portugal na CEE ou Sê um GNR), abordam questões existenciais como a condição feminina, a vivência quotidiana e até uma perspetiva monetária em relação à morte em Fortuna é.

O disco não alcançou o sucesso comercial desejado, talvez pelas temáticas abordadas ou porventura por propor um tipo de som que seguia outros desejos para além da pretensão de ser melodicamente apelativo a todos. Ao constituir um episódio ímpar na história da música pop portuguesa – com uma banda promissora a trabalhar conjuntamente com uma cantora em ascensão – Alibi é por vezes visto como uma mera experiência artística dos GNR. A verdade é que esta fórmula de trabalhar o pop/rock segundo as tendências do pós-punk europeu e da new wave, não voltam a surgir de forma tão experimental na discografia da banda do Porto.

Manuela Moura Guedes optaria por se afastar do panorama artístico depois do lançamento do disco, assumindo uma certa aversão por atuar ao vivo, tendo notado mais tarde que sentiu que teria “jeito para cantar, mas não o talento para construir uma carreira a sério” (palavras em depoimento no booklet da reedição em CD).

Podem escutar Alibi aqui:

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