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Eclipsou-se?

Texto: NUNO GALOPIM

De tantas incursões que os músicos teimam em continuar a fazer pelas memórias dos anos 80, lá tinha de chegar o momento em que alguém resolveu ir ao baú buscar algumas das ideias menos estimulantes de então. Porquê?

De tantas e tantas vezes explorado, escutado e reinventado, o filão do que de melhor ou mais interessante se fez nos oitentas começa a ser espaço quase exausto. Há, aqui e ali, quem ocasionalmente consiga ali encontrar novos veios (coisas da mineralogia e engenharia de minas) e deles fazer brotar episódios de revisão ou reinvenção de formas. Mas nos 25 anos que já passaram desde que a década cantou de finados o volume de investidas e reinvestidas sobre as músicas e caminhos então revelados foi tamanho que cada vez menos são as ocasiões em que se escutem mergulhos entre esses baús sem a sensação de déjà vu. É claro que há sempre áreas menores por explorar. Mas valerá a pena voltar a remexer no que de mais descartável ou inconsequente se fez?

Twin Shadow – ou seja, o projeto de Gordon Lewis Jr. – começou por se apresentar em 2010 com um primeiro álbum no qual revisitava genéticas da cold wave e outras referências da época, juntando uma visão cosmopolita própria de quem conhecera uma juventude morada em várias cidades e geografias, tudo isto cozinhado no buliço de Brooklyn, que então respirava um presente artisticamente agitado. Seguiu-se um segundo álbum inesperadamente menos marcante, embora mais cheio de um vontade em sonhar com um patamar de maior visibilidade lembrando, tal como acontecera com os The Killers na hora de editar um segundo disco, como por vezes os passos em frente numa estratégia de carreira podem soar a um passo atrás na música que de faz.

Todavia, o que pareciam ânsias de palcos maiores latentes entre as canções de Confess (2012) não fariam esperar o tropeção e espalhanço completo que é este novo Eclipse. É tecnicamente um disco competente (aí não haja dúvidas) e mostra um autor capaz de entender as formas da canção segundo os modelos clássicos. O grande senão são os temperos a que recorre para, na hora de novo (e mais intenso) mergulho pelas memórias dos oitentas, apontar azimutes a algumas das tendências mais desinteressantes da memória power pop de travo mainstream de então. Se houve alguma graça gourmet quando Bon Iver trouxe os sabores de memórias menores da pop americana dos oitentas quando fez de Beth/Rest uma das canções maiores do seu álbum de 2011, o mesmo não se pode dizer da multidão de ideias que faz do terceiro disco de Twin Shadow um bom exemplo do que é ir buscar ao passado o que por lá devia ficar arrumar.

Nada contra guilty pleasures (para mim nem são guilty, apenas pleasures). Mas ao tomar os espaços em tempos vividos por discos que encheram o FM mas em nada fizeram história como referência, e sem ter uma grande ideia (ou mesmo canções fenomenais) para os digerir, Eclipse é um caso de eclipse, a luz que outrora o iluminara tendo ficado toldada por uma “lua” menor que por ali passou… Agora só falta mesmo quem apareça aí a ressuscitar as baladas dos Scorpions e os hinos dos Europe que fizeram a pior poluição sonora da época. Não é suposto antes irmos aprendendo com o tempo e o melhor que ele nos dá?

“Eclipse”
Twin Shadow
CD Warner Bros
2 / 5

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