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Um ano de ‘Chandelier’: a peruca que vale milhões

Texto: NUNO CARDOSO

Tinha uma carreira tremida de 19 anos. Hoje é uma estrela pop mundial. Criou a sua marca na forma de uma peruca loira e decidiu esconder a cara em telediscos e atuações. O efeito diferenciador resultou: ao voltar as costas ao mundo, o mundo deixou de lhe virar as costas.

“Wow, nem acredito que esta experiência resultou”, desabafava nas redes sociais no dia em que 1000 Forms Of Fear, o seu sexto álbum, ilustrado apenas com uma peruca loira sob fundo negro, chegava ao topo de vendas de álbuns nos EUA: a primeira vez numa carreira de 19 anos. Sia tem 39 e sabe bem o que está a fazer. O fase de brincar às escondidas já lá vai.

Com dois álbuns do acid jazz dos Crisp, a participação em dois discos dos Zero 7, as backing vocals para temas dos Jamiroquai e no fim, já numa fase mais pop, os cinco LPs assinados em nome próprio (de onde surgiram sucessos moderados ao som de Taken For Granted, Soon We’ll Be Found, Clap Your Hands ou Breathe Me – este último graças à série Sete Palmos de Terra), e uma grave depressão pelo meio, foram necessárias quase duas décadas para que a carreira da australiana invadisse as playlists do universo FM mundo fora e desse o salto para o reconhecimento mundial.
A necessidade aguçou o engenho. Cansada do mediatismo e da vida de estrada com as digressões, imprescindíveis para qualquer estrela pop (e Sia já o era de certa forma, mas em apenas alguns territórios), redefiniu o seu contrato para que apenas fosse obrigada a gravar álbuns, deixando de fora todos os “compromissos” promocionais.

A voz de Chandelier, o monstruoso êxito da pop do ano passado (lançado há precisamente um ano), e que já tinha o hábito de escrever as suas canções, concentrou-se na composição de êxitos para as grandes estrelas do universo pop. Rihanna, Beyoncé, Christina Aguilera, Ne-Yo, Rita Ora, Britney Spears, David Guetta, Flo Rida, Kylie Minogue ou Kanye West são exemplos de uma carreira de sucesso como compositora que já gerou 12 milhões de vendas através de canções como Diamonds, Pretty Hurts ou Titanium.

Aliado a este percurso de bastidores surgiu o seu mais recente álbum, lançado em 2014. Com 1000 Forms Of Fear, de onde foram extraídos os temas Chandelier e Elastic Heart, e que já vendeu quase meio milhão de exemplares no mundo, Sia jogou uma das principais tacadas neste jogo de bilhar que consegue ser a pop: o efeito diferenciador.

Uma simples peruca loira passou a ser o seu símbolo, quer gráfico, quer nas atuações ao vivo, em que surge de costas para o público ou com a cara escondida, com a ajuda da jovem bailarina Maddie Ziegler, a protagonista do teledisco de Chandelier, e de várias das suas performances na TV. Postura anti-mediatismo como forma de levantar o dedo do meio às vicissitudes do mundo artístico? Pura estratégia de marketing? Qualquer que seja a resposta, o resultado está à vista.

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