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Pop Dell’Arte, ontem, hoje e sempre

Texto: ANDRÉ LOPES

O regresso da banda ao Sabotage Club contou com o Volcano Skin na primeira parte, somando o necessário para uma noite de música que tem tanto de intemporal como de peculiar.

Foto: Lourenço Rocha

Apesar da hora tardia, foi com o entusiasmo de uma plateia bem composta que os Pop Dell’Arte foram recebidos na noite de ontem no palco do Sabotage Club. Após uma atuação energética que deu a conhecer a música dos Volcano Skin e as suas tentativas de reanimar um post-punk que de facto nunca ninguém chegou a esquecer, a antecipação pelo concerto dos Pop Dell’Arte era fácil de pressentir. Várias eram as folhas com o alinhamento espalhadas pelo palco, mas não é fácil prever o rumo de espetáculos de uma banda como esta.

Atuaram em outubro passado nesta mesma sala, de forma tensa mas musicalmente irrepreensível. Alguns meses depois chegam-nos mais livres e à vontade num palco de dimensões demasiado reduzidas para a relevância da banda que o pisa. João Peste mostra-se animado e comunicativo, tendo todo o gosto em brindar os presentes com uma abertura de alinhamento que deixa brilhar duas das faixas do disco de estreia. Loane & Lyan Noah e Rio Line dão rapidamente lugar a canções de Contra Mundum, (2010) deixando bem claro que, apesar de muito ter mudado na musicalidade da banda e dos elementos a que recorre, o espírito transgressor da música dos Pop Dell’Arte mantém-se facilmente vivo ao longo do seu percurso.

São uma banda com discos em que a personalidade artística de João Peste é a que mais se destaca, quer pela carismática voz, quer pela aura que o cerca enquanto principal mentor dos Pop Dell’Arte. Em palco, o baixo pujante de Zé Pedro Moura vinca o som da banda com maneirismos rítmicos típicos do funk mais sóbrio, de forma robusta o suficiente para revitalizar as canções mais antigas do repertório da banda. O carisma de João Peste enquanto vocalista volta ao de cima nos momentos em que partilha o palco com as eletrónicas de Eduardo Vinhas – Poppa Mundi ou My Rat Ta-Ta são suficientes para nos recordarmos que ninguém mais cria música desta forma.

Querelle é habitualmente um dos pontos altos das atuações dos Pop Dell’Arte e esta noite não foi exceção. O primeiro single da banda apresenta uma ideia que se aproxima do formato canção pop – de resto sabotado pelo poema fonético de João Peste – ao juntar toda a banda num momento partilhado por todos, com bateria e guitarra a marcarem presença forte.

Terminando o concerto com a caótica Esborre, as expectativas da maior parte dos presentes terão sido cumpridas: com revisitação de clássicos q.b., pôde assistir-se à atuação de uma banda que valoriza também as canções mais recentes, encara lapsos técnicos com humor e que tem ainda oportunidade para mostrar um inédito com pistas para o futuro.

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