Há artistas que vão acrescentado camadas à sua sonoridade quando transitam de um primeiro para um segundo álbum. Elizabeth Bernholz, ou seja, Gazelle Twin, é um caso à parte.

The Entire City, editado em 2011, era um disco rico em paisagens etéreas, com uma vocalização mais pura, revelando uma linguagem simples de compreender, quase equiparável à linha que Karin Dreijer dos (já extintos) The Knife apresentou no seu projecto a solo Fever Ray. Em 2014, Gazelle Twin regressou com Unflesh. Com uma nova cara, uma nova direcção e um conceito diferente do anterior, Elizabeth Bernholz focou-se em temáticas como a eutanásia ou o aborto. Uma mudança que se reflete assim na sua composição, tanto lírica como musical, após dois anos a estudar ciências médicas.

Tendo passado primeiro pelo Maus Hábitos no Porto, com ATILLA de Miguel Béco, no Musicbox de Lisboa fez-se acompanhar por Fujako. Para a experiência ao vivo trouxe uma espécie de dança macabra, apresentando-se como um poltergeist ou demónio sem rosto que assombra o que a envolve.

Apesar de uma performance curta, com cerca de 30 minutos, a atuação foi suficiente para dar a perceber que Gazelle Twin ao vivo é uma artista que funciona de forma independente. Rapidamente se alienou dos presentes nas primeiras batidas de Unflesh, faixa de abertura, tanto do disco como do alinhamento do concerto.

Visceral e grotesca em palco, Bernholz não precisa de uma grande produção para captar a atenção dos que estavam ali para escutar Unflesh ao vivo. Foi necessário apenas uma boa coordenação de luz e som para recriar o universo que Gazelle Twin tinha pensado para esta nova fase do projecto.

Belly of The Beast, Anti-Body e a culminar no final com Exorcise, as canções que mais se destacaram deste novo álbum muito aclamado pela imprensa internacional (como a Uncut, a Artrocker, e considerado mesmo como o álbum número um para a revista online The Quietus), provam que muitas vezes uma simplificação do som e apostar em outras formas de abordagem vocal, do spoken word ao emprego da distorção, podem trazer produtos finais únicos. E por aqui Unflesh é um álbum que se deve manter por perto e servir como exemplo e inspiração para futuras criações.