Últimas notícias

A palavra engana e o palco diz a verdade

Texto: PEDRO PRIMO FIGUEIREDO

É um dos novos nomes que importa ouvir na música brasileira. Castello Branco apresenta em breve “Serviço”, o seu disco de estreia, em três concertos em Portugal. Antes, falou à Máquina de Escrever sobre a palavra, o palco e a melodia.

“Serviço. Essa foi a palavra que mais ouvi na minha infância. Ter sido criado em um monastério não fez de mim um monge, nem me deixou mais próximo de Deus do que você, porém, me trouxe o real significado de fé e o discernimento do que podemos buscar com isso”. Com estas palavras Castello Branco apresenta o seu disco de estreia, que finalmente chega a palcos portugueses: o músico toca a 8 de maio no Auditório de Espinho, a 9 no Aqui Base Tango (Coimbra) e a 10 desce até à Casa Independente (Lisboa). Antes disso, falou-nos por email que a palavra engana e o palco diz a verdade. Para não mentirmos, optámos por manter alguns traços distintivos do português do Brasil com que Castello Branco nos escreveu.

Portugal tem uma relação próxima com a música brasileira mas o inverso não parece ser necessariamente verdade. Tens alguma relação com a música de Portugal?
Tens aí um ponto. Não tenho uma relação profunda com a música portuguesa, mas digo isso de mim. Tenho amigos que procuram muito a música portuguesa e tudo o que ouço agrada-me. Só não entrei muito na pesquisa e na profundidade disso. Sabe-se inclusive que muito do que é nosso vem de vocês, parte de vocês. isso está no nosso sangue e logo na nossa música. Mesmo que lá bem na essência.

Como está a correr a composição e as gravações do teu segundo disco? O que nos podes dizer nesta fase?
Ainda não gravei nada, apenas uma canção que inclusive gravei ao vivo para o Bodyspace, O peso do meu coração, que estará no segundo disco. De resto já tenho algumas canções mas o conceito ainda não o tenho fechado. O ciclo está aberto, já venho discutindo, refletindo e entendendo o que será esse segundo disco para mim e para o mundo. Estou sentindo que colocarei umas violas caipiras, coros, sons que gosto e textos conjunto ao instrumental. Quero cada vez mais alcançar o coração das pessoas, permitir o meu coração falar com o coração do outro e isso vem da “permissão”. Permitir é um gesto sagrado.

O que é que para ti é mais importante numa canção? A letra, a melodia…?
A melodia. É engraçado porque me preocupo com a letra. Me preocupo com o que está sendo dito. Mesmo. Mas a palavra engana. A palavra não existe. A melodia é como a natureza, é como o canto do pássaro, é o verdadeiro ouro. O que veio primeiro sem dúvida alguma e é o que faz a comunicação com o nosso ser. Cura. Lava. Limpa. Traz todas essas sensações de verdade. Muito me questiono sobre a palavra. Muito cuidado temos que ter com a palavra. Muita atenção.

Quais as tuas preocupações maiores quando estás em palco? Preferes o palco ao estúdio ou tens uma relação saudável com ambos?
Prefiro o palco. No palco me sinto livre para queimar minha existência de um jeito intenso. Nasci no dia da intensidade, 11 de dezembro. O palco é o auge da intensidade pra mim e é por isso que tudo vai me levando a esse caminho. Não é por vaidade ou ego é porque realmente me sinto menos mentiroso, menos encarcerado, menos limitado. O estúdio é uma hora importante também, o cuidado com as frequências que serão entregues e como serão entregues aos ouvidos. Procuro me preocupar com ambos, mas o palco é o que no final das contas dou maior atenção. O trabalho, ou melhor, o serviço acontece ali. A troca verdadeira acontece ali, no palco.

Deixe um comentário