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Nada minimais, mas algo repetitivos

Texto: NUNO GALOPIM

O segundo álbum dos Django Django mostra uma banda que encontrou uma sonoridade pop bem cativante e muito pessoal, mas à qual falta agora investir um pouco mais na escrita de canções.

Quando o álbum de estreia dos Django Django entrou em cena, há cerca de três anos, trazia com ele uma brisa de luz pop, mostrando como as possibilidades são ainda quase infinitas para a constante reinvenção da canção pop. Sem se filiarem, ao jeito custe o que custar, entre sabores do momento da sensibilidade indie e sem tropeçar na caução das nostalgias mais em voga, mostravam uma linguagem complexa, que cruzava uma rara paleta de interesses, como resultado surgindo ali canções tão acessíveis quanto invulgares, ritmicamente desafiantes e plasticamente cativantes. Foi uma boa estreia, de facto. Na hora do regresso, ao revelar os primeiros singles de um novo álbum, ficou claro que a culinária de muitos e variados ingredientes não os abandonou. E entre os cartões de visita que se anunciavam ao som de First Light e Reflections mostravam-se duas novas e magníficas canções pop. Da luz do surf e das harmonizações vocais que nunca deixam esquecer os paradigmas inscritos na história da canção pop pelos Beach Boys às electrónicas que ora transportavam ecos de uns Kraftwerk menos ascéticos e o apelo mais quente de uns New Order, num todo em que as linhas vocais sugeriam ainda as cores brilhantes das canções de Brian Eno nos setentas, aqui e ali com um momento inesperado (como um breve flirt jazzy num instrumental a meio do segundo desses dois primeiros singles) e sob um clima que nunca deixa sair de cena uma ténue névoa herdada dos tempos do psicadelismo, os Django Django sugeriam que voltavam a encontrar a chave de uma perfeita alquimia com a canção pop como sendo o seu ouro desejado.

Contudo, ao chegar agora o alinhamento de Born Under Saturn, fica entre quem o escuta uma sensação de como o investimento na definição de uma sonoridade nem sempre aqui é igualado pela arte da escrita e da composição. E mesmo havendo no álbum alguns deliciosos pontos de fuga como os que escutamos em Found You ou Begining To Fade, o grosso do alinhamento não parece senão uma incessante repetição dos mesmos ingredientes e da forma de os cruzar. E posto isto, ao fim de mais de 50 minutos (longo disco) Born Under Saturn deixa uma sensação de cansaço e desapontamento de tão semelhantes entre si que se mostram as canções.

Que fique claro que há aqui alguns instantes de absoluto deleite pop. E, acima de tudo, uma confirmação de um saber na criação de uma identidade sonora que baralha tempos e geografias da melhor forma, tão depressa sugerindo a Califórnia dos sessentas como uma festa de liceu nos oitentas nos dias em que os OMD faziam canções que se agarravam aos nossos ouvidos, mas num contexto que não é de clamor pelo que passou, mas de uma vontade em criar um presente que não esquece que não existe sem o que o precedeu. Tudo certo aqui. Muito certo mesmo.

Mas falta aos Django Django investir agora na composição. Talvez não usar vocalizações harmonizadas por sistema. E pensar como a sonoridade é uma ferramenta ao serviço da moldagem das canções e não uma meta. E quando o entenderem, tendo em conta as memórias – mais suculentas – do disco de estreia e os belos episódios pontuais que aqui nos mostram, poderão fazer um álbum pop memorável.

Django Django
“Born Under Saturn”
Because Music
3 / 5

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