Uma coreografia entre a ambição maior e a convencionalidade
Texto: ANDRÉ LOPES
Corria o Verão de 2009 e era facilmente percetível como essa estava a ser uma temporada particularmente fértil para a pop proveniente do Reino Unido. Por entre lançamentos de nomes como os de La Roux, Little Boots, Bat for Lashes, Patrick Wolf, encontrávamos Lungs, uma coleção de melodias e ritmos nas quais a voz única de Florence Welch ora pairava, ora ascendia em rápida progressão.
Foram seis os anos que passaram desde então, juntamente com digressões, um segundo disco, acidentes, enfim, experiências de uma alma artística jovem. How Big, How Blue, How Beautiful é o álbum que agora nos chega na forma de um conjunto de 11 canções ao longo das quais um estilo de escrita poética flagrantemente direta, nos dá conta do término de uma relação de longa data e do processo de adaptação a novas realidades. Um conceito recorrente em discos pop e especialmente familiar já que a imponência de Vulnicura, que Bjork assinou este ano, ainda se mantém presente na nossa memória e nos nossos ouvidos.
O disco de Florence, contudo, partilha muito pouco com o da artista islandesa. Produzido por Markus Dravs (responsável por gravações dos Arcade Fire ou Coldplay, por exemplo), este álbum procura amenizar os elementos instrumentais mais histriónicos que temos vindo a associar à música desta banda. A opção foi a de deixar para trás as melodias de harpa e a percussão tribal de Lungs bem como as cordas que outrora conferiam um tom quase barroco a Ceremonials (2011). Estas são agora utilizadas com arranjos mais expansivos, constituindo juntamente com os metais, os ingredientes mais aventureiros da musicalidade de How Big, How Blue, How Beautiful.
Em busca de um qualquer minimalismo de recursos que poderia teoricamente funcionar como uma tela indicada para as desaventuras de Florence, a verdade é que – à exceção de St Jude e Long & Lost – a sonoridade do disco mantém-se bastante preenchida como antes. Porém, How Big, How Blue, How Beautiful socorre-se de instrumentos mais convencionais como a guitarra, bateria, baixo e teclas para coabitar as canções em conjunto com a voz de Florence, numa modalidade exagerada da dinâmica que podemos ouvir desde os primeiros trabalhos de Cat Stevens. Ship to Wreck ou Caught serão disso exemplos, na mesma medida em que Long & Lost recorda a musicalidade dos Fleetwood Mac na primeira metade da década de 70. Com Delilah chega uma aproximação aos ritmos acesos da americana Motown.
Assim, e ainda que cercada de ferramentas relativamente primitivas, Florence Welch deixa novamente assente a sua aptidão para a criação melódica, dentro e fora de refrões. How Big, How Blue, How Beautiful troca a inventividade dos trabalhos passados por ideias mais convencionais onde embora mais constrangida, a voz da artista britânica continua a encontrar espaço suficiente para se deixar traçar de formas inventivas.
Florence + the Machine
“How Big, How Blue, How Beautiful”
Island records
4/5

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