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Peixe: “A guitarra acústica presta-se mais para a interpretação de peças a solo”

Entrevista por: NUNO GALOPIM

Peixe atua ao vivo amanhã, pelas 22.00, na ZDB, em Lisboa. Leva consigo os temas do seu mais recente álbum “Motor”, lançado já este ano. Na primeira parte apresenta-se Marco Luz.

Porto

Depois de várias experiências elétricas o que o conduziu a um trabalho mais focado na guitarra acústica?
Penso que foi a necessidade que senti de concentrar aquilo que fui aprendendo ao longo do meu percurso musical, no formato mais simples possível, que é o meu instrumento a solo. A guitarra acústica, pelas suas características tímbricas e de dinâmica, tem na minha opinião um caráter mais orgânico que a guitarra elétrica e presta-se mais para a interpretação de peças a solo, daí ser natural que neste processo tenha privilegiado o seu uso.

Como se descobre uma “voz” pessoal numa música essencialmente instrumental?
Experimentando muito, fazendo e voltando a fazer. Mandando muita coisa para o lixo, até que a dada altura há uma imagem que começa a aparecer, ténue e que aos poucos vai ganhando contornos mais nítidos, como na revelação de uma fotografia. Esse processo de auto-revelação faz-se, procurando harmonias, ritmos, melodias e contrapontos que só sobrevivem quando sentimos que de alguma forma representam o que queremos expressar.

O álbum Motor sugere momentos emocionais. Podemos chamar-lhes mais retratos? E o que os inspirou?
Sim, são como retratos tirados ao longo do processo de construção do disco. Sugerem-me o momento preciso em que as músicas começaram a ser feitas, inspiradas por nada mais que esse próprio momento e o que eu estava a sentir na altura. A minha música não é conceptual. Não tento traduzir nada, para além de narrativas sonoras abstratas que acredito serem capazes de conduzir o ouvinte a algum lugar.

Está a nascer entre nós uma “família” de compositores focados na guitarra, ou há apenas uma coincidência de carreiras a apontar neste sentido numa mesma altura?
Penso que há uma coincidência de carreiras que inevitavelmente formam uma família de artistas que se inspiram e incentivam mutuamente, o que considero muito salutar.

Quando se tem na cronologia uma etapa como a que viveste nos Ornatos Violeta como se vive o presente e projeta o futuro, sabendo que há sempre quem lembre (naturalmente) esse passado?
Tento o mais possível viver o presente. Não me sinto preso ao passado, vejo-o apenas como um percurso que me deu oportunidade de experimentar e de poder evoluir no sentido de poder agora fazer o que faço, sendo o que faço apenas a última fase de aprendizagem para o meu próximo projeto e assim sucessivamente. O facto de haver quem recorde o meu trabalho anterior, ajuda-me sobretudo a acreditar que o caminho que fui traçando fez algum sentido e contribuiu para o bem estar de alguns, o que naturalmente me deixa feliz.

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