Sun Ra e outras galáxias em ciclo lisboeta
Até 11 de julho o ciclo “Are you for real?” propõe uma viagem Afrofuturista do Blaxploitation às Utopias Queer Visuais e Sonoras, através de uma série de filmes, instalações, performances, workshops de voguing, de um livro e a presença de convidados internacionais. Este ciclo, organizado pelo AFRICA.CONT/CML e a Associação Cultural Janela Indiscreta (que é também responsável pelos festivais de cinema Queer Lisboa e Queer Porto), leva até à Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, à Galeria Zé dos Bois, ao c.e.m. – centro em movimento e ao Fontória Blues Caffe, “um conjunto de olhares sobre o movimento cinematográfico blaxploitation” e a “estética e filosofia afrofuturista, que teve no músico Sun Ra (1914-1993) um dos seus expoentes máximos”, explica a nota de imprensa. A abordagem faz-se sob uma perspetiva queer, explorando questões raciais assim como de género e sexualidade.
O programa abriu com o filme Space is the Place (1974), longa-metragem de John Coney, com argumento e banda sonora do próprio Sun Ra. Sobre o músico será ainda exibido Sun Ra: Brother from Another Planet (2005), de Don Letts, um documentário que contextualiza a sua obra e observa as suas repercussões até ao presente. Integrada neste ciclo está também a instalação A Joyful Noise (1980), de Robert Mugge, que integra imagens de atuações de Sun Ra com a sua Arkestra, assim como de entrevistas e registos de ensaios.
Sun Ra é ainda referenciado em The Last Angel of History (1996), de John Akomfrah, filme que estabelece diálogos entre grandes viajantes da música e da literatura dos nossos tempos, como Nichelle Nichols, George Clinton, Lee ‘Scratch’ Perry, Goldie e os Underground Resistance.
Em grande destaque neste ciclo estará a obra do cineasta britânico Isaac Julien, do qual serão exibidos títulos como BaadAsssss Cinema (documentário de 2002 que explora o movimento blaxploitation, a sua influência e repercussões políticas) ou Territories (documentário experimental de 1985 sobre o carnaval de Notting Hill, em Londres, e os conflitos entre a autoridade “branca” e as juventudes “negras”). Pelo ciclo passam ainda The Attendant (1993), Darker Side of Black (1994) e Young Soul Rebels (1991), este último relatando a história de uma relação entre um DJ “negro” e um punk “branco”, par que se vê confrontados com manifestações de que espelham tanto o preconceito do racismo como o da homofobia, num contexto de época que nos transporta à semana em que decorreram as celebrações do Jubileu de Prata de Isabel II.
O documentário de culto Paris is Burning (1990), de Jennie Livinston, e que representou juntamente com títulos históricos de Gregg Araki e Todd Haynes o momento do nascimento de uma ideia de new queer cinema, passa na Noite de Encerramento, a 11 de julho. O filme, rodado em Nova Iorque finais dos anos 1980, evoca espaços pelos quais uma comunidade de gays e transgéneros “negros” e “latinos” encontrou formas de sustento, expressou criatividade e construiu famílias, propondo uma análise cultural de um tempo e um lugar que ilustra uma realidade que, através do voguing (e sobretudo de discos de Madonna e Malcolm McLaren) ganharia depois breve expressão mainstream.
Pode consultar aqui a programação completa deste ciclo.

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