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Afinal há ainda vida entre os Strokes!

Texto: NUNO GALOPIM

O terceiro álbum a solo do guitarrista Albert Hammond Jr. não só é o melhor disco que os vários elementos da banda lançam desde 2009 como revela canções com um fulgor rock’n’roll que lembram ecos dos melhores tempos dos Strokes.

Já lá vão quase dez anos desde que, em 2006, o álbum First Impressions of Earth assinalou aquele que continua ainda a ser o mais recente episódio consequente na obra dos The Strokes. Revelados com entusiasmo na alvorada do milénio, sendo-lhes apontado justo protagonismo entre um conjunto de movimentações que devolveram valores essenciais do rock’n’roll à primeira linha das atenções, aos Strokes devemos em Is This It? (2001) não apenas um dos mais entusiasmantes discos de estreia destes últimos anos como um álbum que integrará um dia o panteão das referências do seu tempo. Seguiu-se dois anos depois um segundo disco que seguia aquele princípio que diz que em equipa que ganga não se mexe, os sinais de novas ideias emergindo então nesse belíssimo disco de 2006 que sugeria que haveria que continuar a contar com a banda que ajudara a colocar novamente Nova Iorque no mapa mais desejado da cultura popular. A verdade é que, depois disso, e mesmo tendo ainda lançado mais dois álbuns, nunca mais ninguém neles viu a expressão das promessas que antes tinham lançado, nem mesmo uma manifestação de um sucesso que essas memórias poderiam ter serviço como caução para uma eventual chegada a horizontes maiores. Nada disso. Desde 2006 os Strokes transformaram-se numa memória (com bons momentos) praticamente arrumada entre os feitos da década passada.

Houve discos a solo. Vários, e em diversas frentes, de uma cativante estreia do guitarrista Albert Hammond Jr. em Yours To Keep (2006) ao garrido – e delicioso – devaneio mais pop de Julian Casablancas em Phrazes For The Young (2009). E Fabrizio Moretti criou os Little Joy, com quem lançou um álbum em 2008… Por todos estes discos brotava mais entusiasmo e novas ideias do que pelos dois álbuns que, em 2011 e 2013, os Strokes juntaram à sua discografia, no de Casablancas surgindo mesmo uma ideia possível de uma derivação pop para a música do grupo que ali nunca se materializou (nem mesmo na sua obra a solo, que entretanto desembocou em terrenos menos consequentes).

E é quando já ninguém esperava muito vindo destes lados que, ao lançar um terceiro álbum a solo, Albert Hammond Jr. reacende a alma essencial dos três primeiros discos dos Strokes num álbum que junta o melhor conjunto de canções que, juntamente com a estreia a solo de Casablancas, representa o que de melhor aqueles músicos nos deram já a ouvir desde First Impressions of Earth.

Sem abdicar da expressão de personalidade com que havia marcado tanto Yours to Keep como Cómo te Llama? (de 2008), o guitarrista junta um corpo de canções de grande viço rock’n’roll, animadas pela mesma luminosidade quase pop que nos alertou para os Strokes pouco depois da viragem do século. Há mesmo, em temas como Razor’s Edge ou Losing Touch uma clara vontade em encontrar ganchos nessas memórias), às quais junta, por exemplo, um contagiante piscar de olho aos Arctic Monkeys em Caught by my Shadow, uma versão saborosa de Don’t Think Twice de Bob Dylan e um single bem apetecível em Born Slippy (que partilha título com o clássico dos Underworld mas não tem mais nada de comum para com esse hino dos noventas).

Momentary Masters não é um Is This It? Nem mesmo uma proposta de renovação de caminhos como a que tanto o seu álbum de estreia ou o de Casablancas poderiam ter colocado no horizonte do tranbalho dos Strokes. Mas representa a mais viva expressão da sua alma essencial em quase dez anos de desnorte para a banda. Caso se juntem, que os outros quatro escutem o que aqui se passa, a menos que queriam partir de forma mais refletida para outros patamares. Para já um velho admirador dos Strokes encontrará, por aqui, uma boa companhia. E a mais viva herança de uma história que, assim sendo, não se faz ainda só de memórias.

“Momentary Masters”, de Albert Hammond Jr. está editado em LP e CD pela Infectious. O disco está também disponível em plataformas digitais de streaming e download.

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