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FKA Twigs e a energia de “M3LL155X”

Texto: ANDRÉ LOPES

A atmosfera que envolve FKA Twigs não perdeu densidade com a popularidade de “LP1” (de 2014). E o novo EP da artista testemunha um ímpeto para a criação que teima em não perder fulgor.

FKA Twigs tornou-se um nome de referência com a chegada, em 2014, do primeiro álbum. Fortemente acarinhado pela crítica, LP1 captou a atenção em várias frentes, reunindo um novo – e mais numeroso – público, interessado em saber e ouvir mais sobre uma figura que procura deixar uma marca forte naquilo que encaramos como música popular. Ao ser um nome apontado incessantemente como sinónimo de uma musicalidade dita futurista, FKA Twigs assenta a sua criatividade no cruzar de maneirismos habitualmente associados ao R&B com elementos de uma eletrónica que procuram ser mais do que adereço cénico.

M3LL155X é o terceiro EP numa discografia iniciada em 2012 e que terá agora chegado a uma fase de transição ou de quase interlúdio entre álbuns; uma ocasião que este lançamento aproveita a seu favor para dar continuidade ao processo de construção da identidade artística de FKA Twigs. Segundo a própria artista, este é um EP cujo título deverá ser lido como “Melissa” – o nome que a mesma atribui à sua energia feminina, elemento esse que busca ao longo destas cinco canções, uma expressão sonora que não possibilite equívocos quanto à sua intensidade.

De forma congruente com essa premissa, o lançamento deste EP foi feito de forma súbita e sem data previamente anunciada. Simultaneamente, FKA Twigs apresentou uma curta-metragem por si realizada, na qual uma componente visual narrativa leva a uma compreensão maior no que toca ao propósito destas canções. A voz muitas vezes descrita como frágil ou sussurrante, surge agora absolutamente segura de si própria e da sua potencialidade enquanto elemento que só partilha o protagonismo com eletrónica e percussão digital que luta por chegar a novas formas, para além dos padrões rítmicos mais recorrentes. Glass & Patron, por exemplo, expõe variações de ritmo e uma afinidade interessante com graves e demais baixas frequências irregulares, no mínimo invulgares naquilo a que diz respeito a canções pop. A abertura com Figure 8 alia uma prestação vocal limpa com uma sonoridade que, nos versos, não se encontra muito distante dos momentos mais apaziguados da vertente industrial de uns Nine Inch Nails.

A fragilidade de outrora pode ter sido posta de parte, mas mais do que constituir um facto por si só, importará talvez refletir sobre a razão de assim ser: talvez a música de FKA Twigs – ou de qualquer mulher artista – não tenha de ser perpetuamente associada à sensibilidade e à perda de resistência. É isso que a canções de M3LL155X provam: ainda que com uma voz em registo quase íntimo, há espaço para mais. Num disco onde ameaças, imposições, declarações de dominância e de vulnerabilidade existem em paralelo com sintetizadores e demais eletrónica, todas estas são peças que pretendem ser suficientemente inventivas para que a tal pop do futuro possa acontecer agora mesmo. Um refinar do som que escutámos nos álbuns anteriores, M3LL155X representa a vontade de não estagnar, seguindo por rotas incomuns e obtendo resultados difíceis de imitar.

FKA Twigs
“M3LL155X”
Young Turks

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