Para redescobrir a pop elegante de Cath Carroll
Texto: NUNO GALOPIM
Casa de alguns dos acontecimentos maiores da pop alternativa britânica dos oitentas, a Factory Records tem uma história que remonta a finais dos setentas e ainda uma mão cheia de títulos nos noventas. Depois faliu, notícia que fez correr tinta na altura, e até teve filme e tudo (24 Hour Party People, de Michael Winterbottom).
Entre os seus últimos discos conta-se o álbum que então assegurou a estreia a solo de uma colaboradora ocasional do NME (chegou a assinar textos como Myrna Minkoff) e também voz dos Miaow e que se mostrava então (aos poucos que lhe deram atenção, é bem verdade) como uma das mais elegantes manifestações de uma pop requintada, tranquilamente iluminada por um evidente interesse pela exploração do ritmo, da bossa nova às electrónicas que então desenhavam formas na chamada música de dança.
Crescida na Manchester dos setentas, Cath Carroll começou por militar entre bandas nascidas como consequência da revolução punk numa mesma alatura em que os Joy Division captavam primeiros focos de atenção. Em 1985 formou os Miaow, banda que conta entre os seus feitos discográficos a presença no alinhamento da mítica cassete C86 editada pelo NME (a restante obra sendo um trio de singles, com uma antologia lançada mais tarde, em 2003).
Produzido por Steve Albini (nome com credenciais mais conhecidas em terrenos mais frequentemente habitados pelas guitarras), England Made Me foi em 1991 o álbum de estreia a solo de Cath Carroll. Gravado entre Sheffield, Londres, Chicago e São Paulo, o álbum revela marcas de uma pop suave, bem desenhada e inspirada.
Canções delicadas, feitas de linhas bem aprumadas e atmosferas sofisticadas (não ler sinónimo de complexas), ocasionalmente invadidas por surtos rítmicos que, todavia, não contrariam nunca a sólida ideia de canção que caracteriza o alinhamento. Conta-se que o disco procurava levar a voz de Cath Carroll a outras (e maiores) plateias… E, ao que parece, a sua produção foi cara… O disco em nada viveu uma carreira de sucesso. A editora viu a sua existência cair por terra pouco depois. Mas da memória de England Made Me fica a história de um álbum que, um quarto de século depois, sabe bem reencontrar.
Esta é a versão de “Moves Like You” que chegou a single. É uma remistura mais dançável face à que se mostra no disco, espelhando claras afinidades com as tendências que a club culture então sugeria a quem fazia canções pop.

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