Mais do mesmo, graças a Deus!
Texto: DANIEL BARRADAS
Há uma noção profundamente entranhada na nossa cultura que nos leva a avaliar a produção de cada artista em termos de progressão, ou pelo menos de mudança. Como se todos tivessem de ser Bowies ou Madonnas e reinventar-se a cada álbum. É o espírito competitivo de constantemente levantar a fasquia para tentar saltar mais alto. O mesmo que na economia impele as empresas a ter de aumentar os lucros anualmente. É uma corrida feia e cansativa mas há quem se recuse a entrar nela.
A banda The Innocence Mission faz, desde 1989, praticamente o mesmo disco e daí nunca veio mal ao mundo, muito pelo contrário. Depois de oito álbums de originais e dois de versões, a sua fórmula mantém-se exactamente a mesma e só podemos ficar felizes por isso. Cada disco da banda é como um velho amigo que nos abraça e nos vem lembrar de coisas boas, que não são memórias porque estão bem vivas nesse momento.
O novo álbum Hello I feel the same poderia ser facilmente descartado como um disco de mais do mesmo, mas quando se ouvem pérolas como Tom on the Boulevard, Daily ou Washington field trip ficamos simplesmente gratos por ainda soarem à nossa mais estimada memória.
Porque é precisamente essa a magia desta banda, a de fazer canções que, mesmo sendo novas, soam como se tivessem existido desde sempre. A vulnerabilidade da voz de Karen Peris, a delicadeza posta em cada som e os arranjos mais honestos e despojados que se podem encontrar são uma coisa tão caseira que só nos pode confortar. Quem tem um disco dos Innocence Mission não precisa de mais nada. Bem… talvez uma chávena de chá…
Para quem nunca os ouviu, Hello I feel the same é tão bom ponto de entrada para o universo da banda como qualquer outro dos seus discos. Para quem os segue há muito, são as mesmas pantufas de sempre, mas lavadinhas e prontas para o inverno que aí vem.
Olá, bem-vindos de volta, ainda sentimos o mesmo!
The Innocence Mission
“Hello I feel the same”
Korda Records 014
5 / 5

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