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As luzes e as sombras, por Giya Kancheli

Texto: NUNO GALOPIM

Em “Chiaroscuro” o compositor georgiano Giya Kancheli apresenta duas obras recentes dominadas pela melancolia. em interpretações por Gidon Kremer, Patricia Kopatchinskaja e a Kremerata Baltica.

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O violinista Gidon Kremer e o seu ensemble de câmara – a Kremerata Baltica – juntam forças com a violinista Patricia Kopatchinskaja, para dar voz a duas obras recentes do compositor georgiano Giya Kancheli que surgem no seu mais recente lançamento no catálogo da ECM Records. São elas Chiaroscuro (2011) e Twilight (2004), peças cortas por uma profunda melancolia e claramente herdeiras de toda uma carga dramática com raiz mais profunda em memórias do romantismo. A segunda, contemporânea de um período de convalescença do compositor, representa uma reflexão sobre a mortalidade e traduz de certa forma os encontros de sombras e desejos de luz em tempo de dúvida. Lógica de diálogos entre a luminosidade e escuridão que, novamente presentes em Chiaroscuro, definem entre as duas – agora em disco – um par concetualmente consequente e sólido.

São obras relativamente simples e acessíveis, sem um “programa” definido além do desejo de refletir os contrastes que habitam ambas as peças que tomam os violinos como figuras de maior protagonismo mas que usam depois ora as percussões ora o piano com mais do que meras vozes da cenografia.

Giya Kanchelli é o compositor vivo mais célebre da Geórgia (e talvez o criador internacionalmente mais reconhecido do seu país). A sua obra, que remonta a inícios da década de 60, traduz uma personalidade que resistiu aos modelos de “realismo” aprovados pelo poder soviético. A sua formação aceitou contido a sugestão “oficial” de estudo das marcas das músicas regionais, que aprendeu em simultâneo com as tradições da música ocidental. Como outros compositores soviéticos (entre os quais Shostakovich) usou a música para cinema, menos filtrada pelos “ouvidos” oficiais, como espaço de ensaio de ideias. Ao todo compôs 38 bandas sonoras, na sua esmagadora para filmes sem representação nos circuitos internacionais. Entre as décadas de 70 e 80 assinou sete sinfonias, a última datada de 1986. Chamou-lhe Epílogo, como que a encerrar um capítulo formal na sua obra, o que não representou necessariamente um afastamento da composição de música orquestral. Depois da queda do poder comunista mudou-se para o ocidente, vivendo desde 1995 na Bélgica. Mantém contudo uma relação próxima com o seu país Natal e, inclusivamente, laços profissionais, tendo desempenhado, durante algum tempo, as funções de director musical de um teatro em Tiblissi. Nos últimos anos tem apresentado peças orquestrais, de câmara e corais, gravando-as para o catálogo da ECM, no qual já lançou mais de dez discos.

“Chiaroscuro”, de Giya Kancheli, por Gidon Kremer, Patricia Kopatchinskaja e a Kremerata Baltica está disponível numa edição em CD pela ECM Records, entre nós distribuída pela Distrijazz.

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