A corrida financeira da família Vaillante
Texto: NUNO GALOPIM
Quando, em inícios de 2014, Jean Graton passou o testemunho a uma equipa chefiada pelo seu filho, Philippe Graton – que estava há muito ligado às aventuras do herói da BD que mais conviveu com pilotos de fórmula um e de ralis, com um primeiro argumento assinado em 1994 em La Piste de Jade – a vida de Michel Vaillant não só conheceu ordem para poder um dia sobreviver ao seu criador, como recebeu um desafio para procurar foras de se adaptar aos contextos desportivos, sociais e mesmo económicos do presente. Ao quarto álbum, mais ainda do que nos três anteriores que lançaram a chamada “nova temporada”, esta vontade em trilhar outras rotas paras narrativas, sem nunca perder contacto com a essência da série e até mesmo a sua mitologia, fica mais clara do que nunca.
Nascendo da mesma equipa que tem trabalhado os volumes anteriores desta “nova temporada” – ou seja, com argumento de Philippe Graton e Denis Lapière e desenhos de Marc Bourgne e Benjamin Benéteau – Colapso foca mais a face empresarial do que a desportiva das operações da família Vaillante e faz inclusivamente do irmão de Michel, Jean-Pierre, o protagonista da narrativa.
Sem desvendar muito sobre a trama podemos dizer que Colapso acompanha a história (às escondidas do patriarca e demais elementos da família) de uma ginástica empresarial de grande amplitude financeira que, se resultando de feição, daria à Vaillante o controlo sobre a velha rival Leader e, assim, um lugar de protagonismo maior nos mercados asiáticos.
Num registo visual que segue a linha dos volumes anteriores – e que face à era Jean Graton tem a diferença mais gritante na opção digital pelo trabalho dos coloristas – Colapso reduz os factos desportivos contemporâneos à narrativa a meros acontecimentos relatados nos media ou referidos en passant. O foco das atenções está aqui em salas de reuniões de escritórios e bancos, em quartos de hotel onde se preparam papéis para assinaturas nos dias seguintes, em telefonemas e consultas a números e debates sobre estratégias e modos de ação para, pela calada, surpreender o adversário empresarial. O telemóvel e o computador estão mais no centro das atenções que as caixas de velocidades e os pneus. E a bandeira de xadrez, aqui, será apresentada àquele que for mais ágil nos contactos e tiver mais dinheiro na conta do que rotações por minuto no motor.
Tal como sucedera depois da estreia de 2014 Em Nome do Filho, a história fica por concluir. O gosto pelos cliffhangers, tão da televisão, já marcou o seu terreno nesta “nova temporada” de aventuras de Michel Vaillant.
“Colapso”, de Philippe Graton, Denis Lapière, Marc Bourgne e Benjamin Benéteau, está disponível em edição de 54 páginas pela ASA.

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