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Seis histórias do nosso tempo

Texto: NUNO GALOPIM

O novo livro de Adrian Tomine, ilustrador com obra frequentemente publicada na “New Yorker” recolhe seis curtas narrativas que retratam figuras e situações que podiam morar nas nossas ruas.

Autor da série de comics lançada sob o título Optic Nerve e um dos mais aclamados ilustradores do nosso tempo, com trabalho frequentemente publicado na New Yorker ou que podemos ver também nas capas dos álbuns Electro-Shock Blues e End Times dos Eels, o norte-americano Adrian Tomine é um dos mais interessantes retratistas do quotidiano, fazendo do mundo ao seu redor e das vivências que fazem as pequenas histórias de todos os dias o ponto de partida para olhares sempre cruzados com um sentido de humor que sabe acentuar o caráter dramático das figuras e situações.

Killing and Dying é a mais recente recolha, num mesmo volume, de pequenas histórias originalmente publicadas na Optic Nerve, juntando seis magníficos contos com figuras anónimas que, vivêssemos por aqueles lados, podiam ser os vizinhos da porta em frente. São histórias de solidão, de sonho integração contra o desenquadramento, num mundo cheio de meios de comunicação mas no qual, na verdade, se fala pouco.

A Brief History of the Art Form Known as “Hortiscuplture”, que abre o volume, coloca-nos, por exemplo, perante a cruzada obsessiva de um homem que crê ter criado uma nova forma de arte – que cruza escultura e jardinagem – e que tenta confrontar os outros com a sua ideia. Amber Sweet mostra como uma mera afinidade pode gerar equívocos numa sociedade que vive ligada online. Já a história que dá título ao volume explora o calvário de cursos e sonhos de futuros profissionais que os pais vivem com os filhos, colocando o dedo na ferida do ensino que se faz pagar e às vezes não prepara tanto quanto os folhetos de propaganda apregoam, aqui juntando como palco os espaços da stand up comedy (e com alguém que, aparentemente, não tem à partida o mínimo dom para o humor).

Cinco das seis histórias que o livro recolhe valorizam sobretudo o diálogo, confirmando uma vez mais um saber do autor na exploração de factos, palavras e situações do quotidiano. Quase os ouvimos falar… O desenho é simples, ora a linha negra ora colorido, experimentando um traço diferente em Inrtuders. A fuga à “norma” dá-se em Translated From Japanese, no qual o texto (nunca desvalorizado, porque é ali que Tomine sustenta as suas narrativas) serve uma sequência de imagens fixas, mais próximas aqui do traço que habitualmente associamos às ilustrações do autor.

Está aqui um dos grandes livros do ano. Com um fulgor no contar de histórias do nosso tempo e uma capacidade em criar personagens no patamar do que de melhor a literatura e o cinema nos têm dado a ler e ver nos últimos tempos.

“Killing and Dying”, de Adrian Tomine, é uma edição em capa dura de 121 páginas pela Faber & Faber.

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