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1999. Era assim a pré-história dos Duran Duran

Texto: NUNO GALOPIM

Três anos antes de “Planet Earth” a banda já andava na estrada. Stephen Duffy era o vocalista. 20 anos depois ele e Nick Rhodes juntaram-se, como The Devils, para recordar ao que soavam as primeiras canções dos Duran Duram.

Quando surgiram em Birmingham, em 1978, os Duran Duran eram na origem uma banda com horizontes mais apontados ao desejo da experimentação do que desejosa em seguir os caminhos em voga, até mesmo entre os pólos de criação que, via new wave, desenhavam caminhos de evolução para as linguagens pop depois de assimiladas as lições do punk. Eram então um projeto partilhado entre o teclista e esteta Nicholas Bates (que pouco depois se passaria a apresentar como Nick Rhodes) e o então guitarrista, mais tarde baixista, John Taylor (de seu nome Nigel), aos quais se juntaria o vocalista Stephen Duffy (que anos depois teria êxito pop com Kiss Me, sob o nome Stephen Tin Tin Duffy e que depois formaria os Dr Calculus e, mais tarde, os Lilac Time). Um pouco depois entraria em cena o baixista Simon.

O Rum Runner, uma das discotecas da cidade, era o seu habitat natural. De dia ensaiavam na sala vazia. De noite Nick Rhodes fazia as honras de DJ e John trabalhava na porta. Em noites de folga iam ao Barbarella’s, outro clube onde por vezes havia música ao vivo. Dessa referência – em concreto do nume de uma das personagens do filme Barbarella de Roger Vadim – tirariam o nome da banda. Da soma de experiências entre o que escutavam ao vivo e rodava na discoteca, nascia um híbrido com desejo em explorar as potencialidades dos novos sintetizadores. Sem baterista nesta fase, usavam programações para o efeito.

Quis o rumo dos acontecimentos que a formação da banda ali não se fixasse. O baterista Roger Taylor entrava em cena, Andy Taylor tomava o lugar de guitarrista e John trocava as seis pelas quatro cordas do baixo. Ao cabo de algumas experiências, a formação encontrava em Simon Le Bon o vocalista. E quando se estrearam em disco, em 1981, eram estes cinco quem inscrevia o nome da banda na história da música pop, com um repertório criado a cinco no último ano de trabalho conjunto. As canções que haviam feito os primeiros tempos da banda, e que haviam sido apresentadas nos seus primeiros concertos, ficavam arquivadas, em silêncio.

Até que, aproveitando uma pausa no trabalho dos Duran Duran, entre Medazzaland e Pop Trash, Nick Rhodes reuniu-se com Stephen Duffy para as trazer de novo à vida e, num disco que editaram num projeto paralelo a que chamaram The Devils, registaram assim um retrato do que seriam as primeiras canções dos Duran Duran, de substanciamente diferente face ao que estas mesmas composições haviam conhecido entre 1978 e 79 havendo sobretudo a experiência acumulada de vinte anos de estúdios e palcos em ambos os músicos. Instrumentalmente respeitaram contudo as sonoridades da época, não retirando às canções a verdade da sua alma vintage.

Dark Circles, o álbum que editaram em 1999, é assim uma janela única pela pré-história dos Duran Duran, servindo a voz de Stephen Duffy um sublinhar do realismo com que o retrato, feito 20 anos depois, se fez finalmente coisa pública. O disco revela sinais claros de alguns caminhos que os Duran Duran tomariam mais tarde, deixando logo evidente uma preocupação cénica bem nítida em Signals in Smoke ou uma vitalidade pop efusiva em temas como Come Alive ou Big Store, vincando já um gosto por heranças do disco e do rhythm’n’blues e suas cercanias em Dark Circles e recordando sinais de juventude de uma composição pensada para a exploração das eletrónicas em Barbarella’s.

O álbum Dark Circles, lançado em 1999 pela Tape Modern (a etiqueta dos próprios Duran Duran) e produzido por Nick Rhodes e Stepehn Duffy, juntamente com Andy Strange, teve uma vida mais discreta do que estas canções mereciam. Chegou a haver uma passagem breve dos músicos pelos palcos em dois concertos, mas pouco depois estava cada um deles concentrado no retomar das suas carreiras. Mas ficaram as memórias. Boas memórias.

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