Novas vistas para Eleanor Friedberger
Texto: NUNO GALOPIM
Recordo com entusiasmo as formas desafiantes com que Eleanor Friedberger e o irmão Mathew propunham novas visões em clima pip quando, juntos, gravavam como Fiery Furnaces e nos davam a escutar verdadeiros acepipes de surpresa em canções como Tropical Iceland ou Sing For Me, duas das canções que guardo na galeria das melhores da primeira década do século. Depois de oito álbuns de estúdio (um deles recolhendo peças de EPs) e um disco ao vivo, colocaram o projeto em modo de pausa. E enquanto a coisa não é reativada (e pode nunca o vir a ser, já que podemos lembrar que os Abba estão em pausa desde 1982, sem um fim nunca anunciado), vamos contando com discos a solo de Eleanor. E convenhamos que, se passarem a ser como este que agora nos dá a escutar, não nos podemos dar por mal servidos.
Ainda respeitador de uma certa simplicidade nas formas e cenários – quando comparadas com as memórias mais complexas dos dias dos Fiery Furaces – o novo New View dá uns valentes passos em frente face ao que antes escutámos nos já promissores, mas não tão arrebatadores, Last Summer (2011) e Personal Record (2013), que alinhavaram as primeiras notas de uma carreira a solo em franca oposição ao que guardávamos como referência do trabalho com o irmão.
Direta nos temas e narrativas, falando de caminhadas, de relacionamentos, de coisas do dia a dia, Eleanor Friedberger mostra contudo em New View uma muito inspirada coleção de canções que define prioritariamente com a sua guitarra, mas que ocasionalmente embeleza com a paleta de sons de um wurlitzer que garante outras cores e sabores às novas canções.
Há aqui uma filiação natural nas mais clássicas linhagens cantautorais (que remontam a Dylan e outros patriarcas da coisa), mas mais do que nos dois discos a solo anteriores, em New View abrem-se novas vistas sobre uma forma de voltara a pensar o adorno como parte da linguagem que define a canção num conjunto que é do aqui e do agora mas que concilia a experiência presente com todo um quadro de memórias e heranças que tão bem dialogam aqui com o que vive neste momento.
E canções como Sweetest Girl, He Didn’t Mention His Mother ou o mui luminoso You Word são apenas alguns episódios felizes de um álbum que, sem ter de piscar o olho ao que foram os Fiery Furnaces, faz com que Eleanor Friedberger volte a encarar a canção com o gosto pela moldagem dos sons e dos acontecimentos.
Eleanor Friedberger
“New View”
Frenchkiss
★★★★


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