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Um percurso por 800 anos de história da França

Texto: NUNO GALOPIM, em Fontainebleau

A pouco mais de meia hora de comboio de Paris, o palácio de Fontainebleau coloca-nos perante uma imensidão de memórias e estilos, com particular destaque para os tempos de Francisco I e Napoleão I.

Se fizermos as contas, passam por ali quase 800 anos da história de França. Com menção mais remota em 1137, calculando-se que as primeiras fundações tenham ali sido lançadas para um castelo no reinado de Luís VI (1108-1137), o Palácio de Fontainebleau foi residência real e imperial ao longo de vários séculos, o último monarca a ali habitar tendo sido Napoleão III (1852-1870), de cuja etapa de vida foram recentemente restauradas algumas salas, entre as quais o seu escritório de trabalho, o Museu Chinês da imperatriz Eugénia ou a sala de Ópera que está instalada na mesma ala, que encontramos à direita do edifício mal passamos o seu portão principal.

Situado a pouco mais de meia hora de viagem de comboio desde Paris (com partida na Gare de Lyon, e atenção que está muito mal sinalizada a máquina de venda automática de bilhetes, entre as várias que ali há, pelo que se aconselha a uma passagem pelo balcão de informações), obrigando ainda a um percurso local de autocarro depois de chegados a Fontainebleau, com uma carreira a ligar regularmente a gare ao palácio, este pode não ser um palácio tão célebre (e simbólico) quanto o é Versalhes. Mas vale uma visita. E se o dia estiver de feição, ao percurso pelas salas há que juntar um outro pelos jardins. Uma sugestão? Regresse à estação de comboio pelos jardins…

De geometria irregular, juntando diversas etapas de construção, sendo mais representada exteriormente a fase que corresponde ao renascimento, Fontainebleau reflete externa e internamente esse percurso de séculos pelos quais passou.

Habitado no final da Idade Média, o castelo original deu lugar a um palácio renascentista durante o reinado de Francisco I, de cuja época datam de resto algumas das salas mais significativas do percurso visitado, entre elas a grande galeria que une a porta principal à ala posterior do palácio ou a grande sala de baile.

Houve depois sucessivas etapas de intervenções, sobretudo com Henrique IV e depois por Luis XIV, apesar das suas prioridades apontarem a Versalhes e outras residências reais e de, naquela altura, Fontainebleau ter sido visto como um espaço do passado. Os imperadores Napoleão I e Napoleão III tiveram uma relação mais próxima com o palácio, sobre ele operando novas campanhas de construção e de alteração da decoração.


Galeria de Francisco I


Sala de Baile

Uma visita ao palácio pede algum tempo. O percurso inicia-se na ala Luis XV, convidando a um primeiro circuito entre as salas de um museu dedicado a Napoleão I no qual vemos alguns dos seus objetos pessoais (é impressionante o seu “necessaire”) e a sua tenda e cama de campanha.

A Napoleão regressamos numa etapa mais adiantada da visita quando, em plenos apartamentos de Estados, caminhamos entre os aposentos da Imperatriz Maria Luísa (a sua segunda mulher) e do próprio imperador, de quem vemos o seu quarto oficial e um outro, mais discreto, mais vezes usado por si quando ali instalado.

São contudo divisões mais célebres deste percurso napoleónico em Fontainebleau a imponente Sala do Trono, que na verdade é apenas uma divisão entre um percurso de espaços dos seus apartamentos, e a famosa Sala da Abdicação, onde assinou a cedência do poder antes de partir para a Ilha de Elba em 1814.


Sala do Trono de Napoleão I


Grande Salão da Imperatriz


Sala da abdicação

Entre a ala Luís XV, onde estão instalados o museu dedicado a Napoleão I e as salas associadas à presença de Napoleão III neste palácio, o percurso de ligação à central de Fontainebleau faz-se por uma zona construída no século XVI na qual estão instalados os apartamentos de Ana de Áustria, um museu de pintura ali lançado por Napoleão III, a Capela da Trindade e a curiosa Galerie des Assietes, cuja decoração é feita por pratos.

Segue-se, após a passagem pela Galeria de Francisco I, um percurso que nos conduz ao Salão de Baile, aos apartamentos do Papa Pio VII, a uma zona para exposições temporárias e a uma sequência de salas dos apartamentos reais nas quais são sobretudo visíveis as sucessivas intervenções ali operadas entre os reinados de Francisco I e Luís XIII.


Sala dos guardas


Salão Luis XIII


Salão Francisco I

Além deste circuito principal, há (como em outros grandes palácios), programas complementares da visita, com acesso aos apartamentos privados de Napoleão ou um circuito alargado sobre o conjunto de salas que habitualmente acolheram ali as rainhas-mãe dos monarcas franceses.

Vale a pena, no fim, passar pela loja recentemente renovada do museu, com uma belíssima seleção de livros sobre história e história da arte. Não é tão vasta como a grande livraria na ala dos ministros em Versalhes, mas está bem recheada de títulos que correspondem a estas etapas da história de França.

Já o restaurante, no piso térreo, junto ao portão dourado, serve uma refeição decente… Deixem contudo a sobremesa para outro lugar…

Fruto de uma nova orientação museográfica e de um plano gradual de restauros, remodelações e criação de novas estruturas no palácio, em 2016 será reaberto o Museu Chinês da Imperatriz e lançado o Histopad, um tablet que permitirá uma visita mais informada a Fontrainebleau. Luís XV será a figura em evidência com duas exposições temáticas. Na Primavera inaugura “Louis XV à Fontainebleau” e, no Outono, “Le Dauphin, L’Artiste et Le Philosophe”. Um PDF com toda a programação do palácio está disponível no seu site oficial.

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