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Um épico… digital

Texto: RUI ALVES DE SOUSA

De uma comédia dramática sobre o mediatismo da vida moderna, o realizador de “Gomorra” e “Reality”, Matteo Garrone, passa agora para o mundo da magia e dos contos fantásticos em “Conto dos Contos”.

O realizador de Reality regressa ao circuito comercial português com uma grande coprodução entre vários países. De uma comédia dramática sobre o mediatismo da vida moderna, Matteo Garrone passa agora para o mundo da magia e dos contos fantásticos. A partir de três histórias distintas, sobre três reinos vizinhos, Garrone traça um retrato das relações humanas, com o amor, a ambição e o poder à mistura. As fragilidades de reis e membros da plebe conjugam-se em pequenos dramas “maiores que a vida”, onde as maldições, os feitiços e as criaturas mitológicas têm um grande papel.

Com um elenco verdadeiramente internacional (da mexicana Salma Hayek ao britânico Toby Jones, passando pelo francês Vincent Cassel e a italiana Alba Rohrwacher), O Conto dos Contos é uma tentativa de pegar na moda das histórias medievais de fantasia que emocionam tanta gente e que tanto dinheiro fazem circular (o fenómeno planetário Game of Thrones é o expoente máximo disso). Uma produção milionária, mas que só o é na aparência.

As boas intenções de Garrone não parecem muito evidentes, porque o filme acaba por ser mais um espetáculo visual insípido e interminável do que uma narrativa intrincada e cuidada. As histórias e os atores deixam-se dominar pelas técnicas computadorizadas, de questionável qualidade, que dominam a obra de uma ponta à outra, sem acrescentarem nada que nos aproxime mais deste universo tão fechado em si mesmo. O tom épico torna-se aborrecido porque fica despropositado, e as proporções gigantescas do filme tornam-se risíveis, de um momento para o outro.

O Conto dos Contos parece apenas uma desculpa constante para justificar o orçamento. Todos os luxos tecnológicos estão aqui presentes, e o filme perde a sua (pequena) alma a cada momento que passa. São três contos morais que, apesar do seu relativo interesse, entrelaçam-se sem grande ritmo e acabam por se desvanecer, entre tanta coisa espalhafatosa, que nem consegue encher o olho com satisfação. Uma pedrada no charco que, apesar de tudo, não falha totalmente, porque a história do rei com bizarros animais de estimação, mais a filha e o seu “marido” monstruoso, parece ser a única que tem mais pujança entre todo o conjunto. Contudo, tendo tanta gente de talento envolvida, o filme devia proporcionar mais do que isto ao espectador, uma mistela irregular de imagens cujos excessos digitais podem provocar enjoos.

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