Devolver a imagem ao traço de um pioneiro da BD
Texto: NUNO GALOPIM
Neste 2016 em que se assinalam os 80 anos do início da publicação de O Mosquito – uma das peças mais marcantes da história da banda desenhada entre nós – uma das muitas narrativas aos quadradinhos que passaram por aquelas páginas regressa aos nossos olhos. E, tal como nos filmes de outros tempos que retornam aos ecrãs com a imagem restaurada e o som recuperado, também Os Doze de Inglaterra têm agora vida em livro em condições de qualidade da reprodução da imagem e de respeito pela integridade do traço como até aqui não acontecera.
A história parte de uma das passagens da Ala dos Namorados, romance histórico de António de Campos Júnior que data de 1905. Mas o protagonista maior de Os Doze de Inglaterra é Eduardo Teixeira Coelho, um importante (e aclamado) pioneiro da BD made in Portugal que iniciara uma colaboração com O Mosquito em 1945 com Os Guerreiros do Lago Verde e que teria em Os Doze de Inglaterra a sua penúltima aventura apresentada nesta publicação, antecedendo A Aia (1952), apresentada um ano antes do fim de vida da revista. Exímio desenhador de armas, armaduras e trajes de época, em paralelo à criação de desenhos, Eduardo Teixeira Coelho estudou a fundo a armaria portuguesa de então e chegou mesmo a publicar sobre o assunto.
Esta história de cavaleiros, donzelas, bandidos, reis e escudeiros, com cenário nos tempos de D. João I, acompanha a aventura do “Magriço” português que acode, como outros, a um desafio de honra vindo dos aliados ingleses. Ao ir por terra, cruzando territórios diferentes e encontrando obstáculos e desafios, protagoniza uma sucessão de atos de coragem (física e mental) em regime bem old school.
A publicação original, feita entre 1950 e 1951, não só surgira no papel de qualidade menor então usado pel’O Mosquito, como a cada semana era impresso usando, além do preto, uma (única) cor diferente. O texto, por vezes excessivo para a zona do quadradinho que lhe era destinada, obrigou ocasionalmente o tipógrafo a “cortar” detalhes da imagem, respeitando a integridade da escrita. Nesta nova edição, coordenada por José Ruy, não só o papel é branco (e bom), como a cor surge uniformizada no preto e branco (com um cinzento e um ponteado a assegurar os tons intermédios). Mas o mais cativante pormenor deste “restauro” é a forma como, ao recuperar as provas tipográficas como base de trabalho, se regresso à integridade do desenho, reduzindo afinal (sem o deturpar) o discurso escrito. O trabalho de Eduardo Teixeira Coelho em Os Doze de Inglaterra surge, assim, e pela primeira vez, tal qual o desenhador o deixou sair do estirador para as mãos do tipógrafo. Haja mais edições assim.
Eduardo Teixeira Coelho
“Os Doze de Inglaterra”
120 págs., Gradiva



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