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Nem toda a nova pop tem de inventar o futuro…

Texto: NUNO GALOPIM

Dois anos depois do álbum que apresentava a reinvenção dos Peter & The Pirates como Teleman, o novo disco reafirma aqui uma vontade em trabalhar sobre heranças da pop mais clássica de origem britânica.

Tudo começou quando se chamavam Pete and the Pirates. Oito anos e alguns discos depois deram a aventura por terminada e, com algumas mudanças internas e uma cosmética de comunicação reinventaram-se em 2012 como Teleman, estreando-se dois anos depois com Breakfast, uma das mais deliciosas e luminosas entre as coleções de canções que o ano de 2014 nos deu a escutar. É claro que não era no nome que residia o drama anterior (mas convenhamos que fizeram aí um upgrade)… Foi na forma de entender a canção, como herdeira de escolas indie claramente made in UK, cruzando o clima da composição com uma certa respiração pastoral, uma luz mais de azuis dias de verão do que de céu cinzento e um piscar de olho ao apelo da pop que o pequeno almoço com que se reinventavam mostrava, mesmo sem resultados comerciais evidentes, que o caminho estava mais favorável a levar, agora, os Teleman a algum lugar…

Dois anos depois assinalam um episódio de evolução numa direta continuidade em Brilliant Sanity, um segundo disco que, antes de mais, coloca algum freio no apelo pop pastoral que valeu comparações com os Belle & Sebastian por alturas de Breakfast (facto que, contudo, as afinidades vocais entre Thomas Sanders e Stuart Murdoch não poderá apagar nunca em pleno). As novas canções insistem em modelos de classicismo evidente, reclamando toda uma herança de gerações e bandas que, aqui, se continua a perpetuar mostrando como nem toda a invenção do presente tem de viver de ruturas para gerar polos de interesse.

Alguma maior angulosidade que se reconhece em canções (com arranjos e produção sem vontade em deixar elementos por pensar) sublinha ainda uma mais evidente vontade em trabalhar noções de contraste e de ironia que certas letras sugerem, no aparente otimismo de Glory Hallelujah, por exemplo, habitando mais sugestões do que as que o primeiro contacto possa sugerir.

Apesar de mais bem definido, arrumado e polido, o álbum talvez não traga a coleção de doces pop como os que faziam de Breafkast um bem nutritivo arranque de nova etapa na vida destes músicos. Mesmo assim entre canções como o intenso Dusseldorf ou o épico Melrose, há motivos para continuar a querer acompanhar o percurso dos Teleman.

Teleman
“Brilliant Sanity”
Moshi Moshi / Edel
★★★

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