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Em sintonia com Martha Argerich

Texto: NUNO GALOPIM

Inéditas até aqui, gravações captadas por estações de rádio alemãs em 1960 e 1967 evocam episódios num tempo em que a carreira da pianista começou a ganhar verdadeira dimensão internacional.

Em 1961, quando editou um primeiro disco para a Deutsche Grammophon, no qual interpretou peças de Liszt, Chopin, Brahms, Prokofiev e Ravel a pianista Martha Argerich estava ainda longe de ser a figura com dimensão global que começava a surgir quando, em 1967, numa nova gravação para a mesma editora, desta vez ao lado de Abbado e da Filarmónica de Berlim, interpretava concertos de Ravel e Prokofiev.

Nascida em Buenos Aires em 1941, tendo conhecido entre os seus professores nomes de referencia como Friedrich Gulda ou Madeleine Lipatti, tinha já ganho concursos internacionais e dado alguns concertos quando, em 1960, uma estação de rádio em Colónia gravou e transmitiu um concerto seu como solista no qual interpretou obras de Mozart, Beethoven e Ravel. No mesmo ano, também na Alemanha, mas para a NDR Kultur, gravou Prokofiev e Ravel. Durante anos estas gravações habitaram os arquivos das respetivas estações de rádio. Até que agora, juntamente com um outro conjunto de registos, captados em 1967 pela mesma estação de Colónia, a Westerndeutscher Rundfunks, para a qual desta vez gravou uma sonata de Prokofiev, este conjunto de memórias surge numa edição da Deutsche Grammophon que, num disco duplo sob o título Early Recordings, assinala assim uma breve galeria de retratos de uma das maiores pianistas do nosso tempo, em registos que evocam primeiros e importantes passos no processo de afirmação de uma carreira internacional.

No booklet que acompanha esta edição, Gregor Willmes nota que as sonatas de Mozart e Beethoven que aqui surgem eram peças até aqui não representadas na discografia de Martha Argerich. Estas duas obras, na verdade, evocam o período em que, em meados dos anos 50, estudou com Gulda, observando o texto que, numa gravação contemporânea do Op. 10 de Beethoven, a pianista optou por uma abordagem com tempos mais rápidos, numa expressão de afloramento de uma personalidade interpretativa.

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