Quem disse que a música eletrónica não era emotiva?
Texto: NUNO GALOPIM
Se a evolução de uma obra traduz a soma dos acontecimentos e experiências que vai vivendo e assimilando, então a que Henrik Weber tem vindo a construir como Pantha du Prince é um belo exemplo para o exemplificar. E The Triad, o primeiro álbum que edita desde a experiência conjunta com o coletivo The Bell Laboratory (usando os carrilhões da Câmara Municipal de Oslo), é um claro fruto do acumulado de vivências e trabalhos que já conhceu.
Dos ensaios pelo tecno minimal que registou em Diamond Daze (2004) e o soberbo This Bliss (2007) à procura de ecos de um lugar e da sua narrativa em Black Noise (2010), juntando depois o progressivo interesse pelo trabalho de colaboração com outros músicos (que o juntou já a Panda Bear ou ao coletivo The Bell Laboratory), o percurso que o músico (que antes tinha já gravado como Glühen 4) tem vindo a criar para o projeto Pantha du Prince transportou-o ainda do mais habitual patamar de existência solitária (tão característico em quem trabalha nestes comprimentos de onda) a um terreno de labor colaborativo que, em The Triad, quase sugere uma identidade conjunta de banda.
Na verdade a “tríade” a que o título se refere não é mais do que o trio que a Henrik Weber juntou as presenças ativas de Bendik Kjeldsberg (do coletivo The Bell Laboratory) e de Scott Mou (que se apresenta habitualmente como Queens), o álbum traduzindo a vibração emocional e vivencial do encontro que, além deles, contou com mais alguns colaboradores.
Sem abandonar as fundações de uma identidade formada no tecno minimal (e basta ouvir uns segundos de qualquer tema para reconhecer as marcas de presença do autor), o disco aprofunda o trabalho de integração das sonoridades de sinos e carrilhões, assim como vinca uma mais expressiva utilização de elementos tocados para lá dos samples e programações. É contudo numa maior quantidade de momentos vocais que The Triad encontra a alma de um álbum que deixa claro (e atenção que não é o primeiro a fazê-lo) quão viva, humana e emotiva pode ser, afinal, a música electrónica. A voz não é contudo destacada do corpo instrumental como frequentemente acontece na canção seguindo, antes, uma lógica de diluição no corpo total, um pouco como conhecemos em algum do trabalho de uns Sigur Rós (curiosamente, há afinidades possíveis com o quarteto islandês em The Winter Hymn, que abre o disco).
Aos instrumentos tocados “ao vivo” e à mais frequente presença da voz, The Triad encontra outros focos de ligação emocional no quadro de referências e relações que as composições sugerem. E quando cita Agnés Varda em Lions Love ou a memória de Fritz Lang no contagiante Frau Im Mond, Sterne Laufen, as ligações estabelecem-se e, uma vez mais, é da experiência emocional que vive o momento em que a ligação à música acontece.
Feitas as contas, e depois de três álbuns de exceção entre This Bliss, Black Noise e Elements of Light, Henrik Weber volta a fazer do seu projeto Pantha du Prince um dos valores mais interessantes da música electrónica do nosso tempo.


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