Olhó Robot!
Texto: NUNO GALOPIM
Num tempo de explosão de produção entre a ficção televisiva, as séries (as estreantes e as novas temporadas de outras já em exibição) surgem que nem cogumelos em terreno húmido… Há de tudo… Do bom, do mau, e do deixem-estar-que-já-mudei-de-canal… E, entre tantas e tantas, por vezes surge uma ou outra que se destaca sobre quase todas. E, das que surgiram nos últimos tempos, Mr. Robot é das que mais justificaram o entusiasmo partilhado entre tanta gente, gerando mesmo um dos mais claros exemplos do “passa a palavra” que pôs meio mundo a ver os episódios da primeira temporada. E agora, com a segunda prestes a chegar aos nossos ecrãs, vale a pena rever a matéria dada na edição em Blu-ray já disponível em alguns mercados.
Criada por Sam Esmail, a série tem como protagonista um hacker bem-intencionado que, tal como Dexter “limpava” os maus da fita (mas por via digital e sem assassinatos), segundo um código que lá teria a sua muito peculiar ética, também a figura de Elliot Alderson (magistralmente interpretado por Rami Malek) é a de um homem com dois rostos, um público e um privado. No day job trabalha para uma empresa de segurança informática. Nas horas vagas é um hacker destro que entra na vida dos outros pelos seus segredos e age… em conformidade.
Mr. Robot, o nome da série, refere-se na verdade a uma outra personagem (interpretado por Christian Slater): um homem com espírito de líder anarca de seita rebelde que comanda uma pequena equipa que jura lutar contra os poderes instituídos, sobretudo os da finança. Elliot é um peão sob a sua atenção e uma eventual força a juntar à sua equipa. A força de Mr. Robot reside contudo no estabelecimento de vários outros níveis de leitura e de acontecimentos, que resultam de um bom trabalho de criação de personagens. E no caráter instável de Elliot, atormentado pela paranoia, por visões, pela solidão e episódios de depressão, reside uma das mais nutritivas entre as fontes de acontecimentos que, por vezes, adquirem uma dimensão quase lynchiana, onde as fronteiras entre a realidade e a fantasia se dissipam…
A primeira época juntou ainda uma boa banda sonora, uma forma imaginativa de evitar o genérico e fazer da abertura de cada episódio um acontecimento surpreendente e lançou uma série de histórias que ficaram em aberto, terminando mesmo a temporada com um belo cliffhanger… Vale a pena rever tudo (até porque o regresso às imagens e às tramas junta sempre novos pontos de leitura e reflexão). E, depois, mergulhar na segunda temporada.

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