Últimas notícias

“Around The World in a Day”: Quando Prince olhou para o caleidoscópio

Texto: NUNO GALOPIM

Editado em 1985, o sucessor de “Purple Rain” voltava as costas a uma relação mais direta com o grande público e revelava um tempo de entusiasmo por memórias do psicadelismo.

A longa digressão que levou à estrada o álbum Purple Rain, numa altura em que Prince ascendia à primeira linha do estrelato, abriu terreno a várias descobertas pessoais para Prince, desde um novo relacionamento com espaços do jazz a um interesse aprofundado por discos da cena pop/rock em finais dos anos 60, ou seja, tempos caracterizados pelas visões caleidoscópicas do psicadelismo. Estes terrenos entraram no seu mundo através do entusiasmo partilhado por duas instrumentistas que então integravam os Revolution: Wendy Melvoin e Lisa Coleman e abriram horizontes de interesse pelos quais se foi meterializando a ideia que conduziria Prince a um novo álbum ao qual chamou Around The World in A Day.

A canção que daria título ao álbum foi a definitiva catalisadora dos acontecimentos. Criada a partir de uma canção composta pelos irmãos de Wendy e Lisa, mas assimilando então marcas da personalidade do próprio Prince, o álbum que editou em 1985 revelava um caminho claramente diferente dos trilhos de diálogo e flirt com o grande público que habitara em Purple Rain e desencadeara um fenómeno de vendas. E expressava, mais do que no disco de 1984, uma demanda mais preocupada no desbravamento de novas soluções, tanto na escrita como na instrumentação. Se entre as temáticas há evidentes manifestações de continuidade, já na forma de pensar as canções e de convocar instrumentos para os seus arranjos observamos em Around The World in a Day um projeto ainda mais arrojado. O psicadelismo lança ideias e desafios – como fica evidente no tema-título ou em Paisley Park –, mas não fecha em si as suas resoluções. E, mais ainda do que em qualquer disco anterior, Prince concebe um manifesto de diversidade que encontra na sua voz (e palavras), na guitarra e numa forma de desenhar percussões sintetizadas a coesão que depois sustenta o alinhamento.

A pedido de Prince, e para estabelecer um contraponto para com o discp anterior, Around the World in a Day foi lançado com um esforço mínimo de promoção, tanto que até mesmo os quatro singles extraídos do disco – Raspberry Beret, Paisely Park, Pop Life e America – só começaram a entrar em cena cerca de um mês após o lançamento do álbum.

O disco chegou contudo num tempo em que Prince decidiu parar de tocar ao vivo e também sob o efeito de ressaca aos feitos de 1984, que então se abateu um pouco sobre o músico. O patamar de fama alcançado abriu novas frentes de curiosidade no departamento gossip e a não participação de Prince na gravação de We Are The World, uma canção de Michael Jacskon, abriu especulações sobre rivalidades entre os dois. Um caso gerado pelas declarações de um ex-guarda costas, alimentando ainda mais o filão de notícias desligadas da invenção musical. Prince contudo não pareceu muito incomodado. Nem com as notícias. Nem com os resultados mais discretos das vendas (mesmo assim com alguns feitos significativos). Afinal estava já a trabalhar num novo projeto, envolvendo (uma vez mais) um disco e um filme.

Deixe um comentário