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Os melhores livros de 2018 (nº 1)

Entre o panorama da edição livreira, tanto deste lado da fronteira como de outras paragens, aqui ficam dez exemplos que nos chamaram a atenção em 2018. Aqui os vamos revelar um a um, em contagem crescente.

1. “Espaço para Sonhar”, de David Lynch e Kristine McKenna
(Elsinore)

“Espaço para Sonhar”, a biografia (quase) “definitiva” de David Lynch, conta pela primeira vez muitas histórias e pormenores até agora desconhecidos da vida criativa e pessoal do artista. Como não podia deixar de ser, uma biografia de David Lynch tinha de ter uma particularidade distintiva. Neste caso, é um texto escrito a quatro mãos mas que alterna (é literalmente alternativo), a cada capítulo, entre a versão da jornalista e crítica Kristine McKenna (que utilizou as ferramentas de pesquisa próprias do biógrafo) e a do realizador referente a um mesmo período temporal. McKenna escreve um capítulo, revisto por Lynch, e depois este redige uma espécie de resposta, caldeada pelas memórias dos entrevistados, a esse mesmo capítulo, o que resulta em pares de capítulos sobre a mesma etapa da sua vida e carreira, mas, no caso das páginas escritas pelo cineasta, com algumas mais-valias que decorrem da sua perspetiva mais intimista e subjetiva. Ficamos a conhecer muitíssimo da vida e das histórias dos processos criativos, da preparação, das rodagens e dos problemas, mágoas e boas recordações de todo o processo de feitura de cada um dos seus filmes (que seria exaustivo estar aqui a aflorar e cujo prazer da descoberta – e são imensas as revelações até agora desconhecidas do grande público – não vamos retirar ao leitor). – Nuno Carvalho

2. “Calipso”, de Cosey
(Levoir)

Apresentado em 2017 por ocasião de uma homenagem em Angoulême, o mais recente romance gráfico de Cosey é um dos melhores títulos de banda desenhada da presente série de lançamentos da Levoir. Criação a preto e branco (reencontrando desejos antigos), “Calipso” toma a Suíça como cenário protagonista da história de um reencontro. Um reencontro entre uma atriz que ficou famosa por um filme feito há longos anos – o Calipso que dá título ao livro e no qual vestia a pele de uma sereia – e um homem com quem esta teve um caso nos dias de juventude e que agora trabalha em piquetes de obras, escavando túneis. O reencontro dos dois velhos companheiros, que começa de forma ríspida, é na verdade a primeira porta para uma sequência de reviravoltas narrativas que Coseu desenha ao longo de empolgantes 112 páginas, dando fôlego (com vertigem e emoção) a uma história que nos leva onde menos esperamos… Numa altura em que o cinema procura tantas ideias na BD, que tal, em vez de mais um super-qualquer-coisa, um olhar por este livro. Daria um belo filme… – N.G.

3. “Apollo VII-XVII”, de by Floris Heyne, Joel Meter, Simon Phillipson e Delano Steenmeijer
(Neues Media & Co.)

A passagem dos 50 anos sobre o momento que concretizou o sonho lançado por John F. Kennedy de colocar um ser humano na Lua antes do final da década (de 60) está já a gerar uma série de ações e edições. Do filme “O Primeiro Homem” de Damien Chazelle a exposições (como a que está agendada para o Grand Palais em Paris), de documentários (como “Earthrise”, sobre a mítica foto do nascer da Terra tirada a bordo da Apollo 8) a inúmeras edições em livro, a agenda está bem recheada. Entre os livros já editados um deles junta uma seleção de fotografias tiradas pelos astronautas das missões Apollo. “Apollo VII-XVII” é essencialmente um álbum de fotografias, mas junta ainda um texto de Walt Cunningham (astronauta da Apollo 7 que tirou as primeiras das imagens do lote aqui apresentado) e uma série de informações complementares como, por exemplo, o tipo de câmaras que levavam a bordo e como os astronautas se prepararam para serem os fotógrafos num novo corpo celeste. – N.G.

4. “Um Diário Russo”, de John Steinbeck
(Livros do Brasil)

Quando começou a gelar a relação entre russos e americanos, Steinbeck e o Robert Capa viajaram até à URSS para observar, de perto, como eram aqueles que muitos começavam a ver como “inimigos”. Entre semelhanças e contrastes, com ecos da guerra ainda visíveis, “Um Diário Russo” ganha interessantes sentidos 70 anos depois. Na verdade o soberbo relato de Steinbeck começa ainda nos EUA, com a torrente de frases ensopadas em ignorância e medo que escutou antes de partir. Só depois dos primeiros encontros entre círculos intelectuais moscovitas e de dias e noites passados entre os demais estrangeiros ali residentes começaram a ver e ouvir os cidadãos anónimos da URSS. Primeiro em Moscovo, depois em Kiev e numa zona rural perto da capital ucraniana, mais adiante em Estalinegrado (hoje Volgogrado) e, depois, na Geórgia que, ao contrário das outras áreas visitadas, as marcas da guerra não se tinham feito sentir. Apesar dos filtros impostos, e do pavor que Capa terá vivido quando, em vésperas de regressar, lhe pediram os negativos todos, devolvendo-os em caixa selada que só poderia abrir depois de passar a fronteira, o conjunto de quadros que lemos, 70 anos depois, não deixam de ser tanto um conjunto de retratos de época como expressões de uma maneira de ser que, na verdade, parece inscrita no DNA de um povo. – N.G.

5. “Tantas Palavras”, de Chico Buarque
(Companhia das Letras)

Quando a Academia atribuiu (e bem) o Nobel da Literatura a Bob Dylan dei por mim a pensar que outros escritores de canções poderiam merecer semelhante distinção… Leonard Cohen, sem dúvida. Mas deixou-nos no mesmo 2016 em que Dylan era distinguido… Um outro nome? E ainda por cima com o valor acrescentado de trabalhar a língua portuguesa? Chico Buarque. Escritor de canções e também de livros, completará os 75 anos em 2019. Bom momento para um olhar panorâmico sobre a sua obra poética criada para a música. E é essa a proposta central de “Tantas Palavras”, volume de quase 500 páginas que atravessa o percurso de Chico Buarque entre “Tem Mais Samba” (disco de 1964 que ele mesmo reconhece ser o “marco zero” da sua carreira) e o recente “Caravanas”, o seu mais recente álbum de estúdio, editado em 2017. Como complemento o livro junta um longo texto biográfico de Humberto Werneck que nos ajuda a arrumar todas as demais palavras nos contextos em que foram surgindo, e que inclui excertos de entrevistas com outros nomes grandes da música do Brasil como Tom Jobim, Edu Lobo, Caetano Veloso e Gilberto Gil. – N.G.

6. “Os Guardiões do Louvre”, de Jiro Taniguchi
(Levoir)

Autor com uma longa relação com França e a banda desenhada franco-belga, o japonês Jiro Taniguchi (1947-1917) foi, juntamente com outros como Bilal, Étienne Davodeau ou Niocolas de Crécy, um dos nomes que o Museu do Louvre chamou em 2013 para um desafio de criação de obras que tivessem esta grande instituição parisiense como protagonista ou cenário. Depois de ter passado um mês a deambular pelas salas do museu – certamente como o fazem muitas das personagens dos seus livros, caminhando e observando – o mestre japonês criou “Os Guardiões do Louvre”, aquele que seria, de resto, o seu último livro “francês”. A narrativa leva-nos entre a sala e sonhos, num limbo que faz o protagonista vaguear entre épocas diferentes e até mesmo lugares, chegando a conhecer figuras como as dos pintores Jean-Baptiste Corot ou Vincent Van Gogh (este numa viagem a Auvers-Sur-Oise) e a assistir, presencialmente, à evacuação das obras do museu em vésperas da eclosão da II Guerra Mundial, numa ocasião em que vê, caminhando pelas salas, o escritor Antoine de Saint-Exupéry… – N.G.

7. “Medo – Trump na Casa Branca”, de Bob Woodward
(ed. nacional: D. Quixote)

Os universos do poder, os seus bastidores, são frequente matéria prima para narrativas de não ficção que têm gerado livros de tiragem tão grande que por vezes ultrapassam os números habitualmente conquistados por ‘best sellers’ na área da ficção. E “Medo”, de Bob Woodward, representou de resto o livro com vendas “mais rápidas” na história da editora Simon & Schuster, tendo atingido 1,1 milhões de unidades vendidas apenas no dia em que chegou às livrarias! Já havia livros publicados sobre a Casa Branca na era Trump, nomeadamente por Michael Wolf e Omarosa Maginault Newman. Mas “Medo” surge com outro embalo: o da obra reconhecida de um dos maiores jornalistas de investigação nos EUA, nada mais nada menos que metade do par (juntamente com Carl Bernstein) que em 1972 desvendou o “caso” Watergate que acabaria por conduzir à demissão de Nixon. “Medo” nasceu de uma multidão de entrevistas com figuras ligadas à administração e acompanha tanto o período que antecede a eleição como os primeiros tempos da presidência de Trump. Imagens de caos e críticas duras habitam um texto que está na linha do que outras descrições já antes tinham levantado. Na hora do deve e haver houve entrevistados que negaram as palavras ditas… Mas, bom jornalista, Woodward guarda as gravações consigo… – N.G.

8. “B.P.R.D. Hell on Hearth”
(volumes 1 a 3)

O início da edição em capa dura do segundo ciclo do B.P.R.D. (departamento para a pesquisa e defesa do sobrenatural), série spin-off do universo Hellboy, é um evento. O ano passado, a temporada que Hellboy passou no inferno (“Hellboy in hell”), e que em termos de narrativa acontece ao mesmo tempo que este ciclo do B.P.R.D., teve direito a edição de luxo e é sem dúvida um dos momentos altos da banda desenhada neste século. A série B.P.R.D. nem sempre lhe chega aos calcanhares mas ocasionalmente aproxima-se e isso já é bem mais que suficiente. “Hell on earth” é ciclo que se segue ao inicial “Plague of frogs”. Aqui a história atinge proporções nunca antes vistas no mundo da banda desenhada e dos super-heróis (se bem que o B.P.R.D. é mais um grupo de super-anti-heróis e anti-heróis sem nada de super…). Ao contrário do que sucede com outros universos, como os da Marvel ou da DC Comics, aqui sempre soubemos que caminhávamos para a desgraça e que não vai haver recomeços. – Daniel Barradas

9. “Alix – L’Art de Jacques Martin”, coord. por Stéphane Beaujean e Gaëtan Akyuz
(Casterman)

Jacques Martin trabalhou na revista “Tintin” e foi durante alguns anos um colaborador de Hergé. Com o tempo ganhou um lugar na linha da frente dos grandes autores de BD da chamada ‘linha clara’, sobretudo através das aventuras de Alix, o jovem gaulês romanizado que surgiu pela primeira vez nas páginas da revista Tintim a 16 de setembro de 1948. Até 1985 criou um corpo inicial de álbuns que deram vida a Alix, desenvolvendo não apenas a personalidade do jovem gaulês, feito escravo e depois adotado por um patrício romano, mas com ele viajando a vários destinos possíveis no quadro do mundo conhecido de então (no ponto de vista ocidental, claro). Após um primeiro hiato Alix regressaria aos livros em 1996 numa segunda vida na qual a presença de Jacques Martin foi sendo progressivamente mais discreta, conduzindo mesmo assim a evolução das tramas e acompanhando a feitura dos álbuns. Em tempo de assinalar os 70 anos da criação desta série, e na sequência de uma exposição em Angoulême, este volume representa um olhar panorâmico sobre o desenho (das figuras aos cenários) e o modo de apresentar narrativas, focando sobretudo a etapa em que a Jacques Martin cabia a totalidade da escrita e desenho, não esquecendo outras séries que depois criou. – N.G.

10. “Sonhos Elétricos”, de Philip K. Dick
(Relógio de Água)

“Sonhos Elétricos” é uma coleção de contos de Philip K. Dick. Não está aí a novidade já que, em 1955, o mesmo ano em que lançou em livro um primeiro romance, o escritor viu também um primeiro conjunto de contos seus previamente publicados em revistas a ser reunidos num volume de capa dura, desde então tendo surgido muitas outras edições feitas de vários pequenos textos agrupados pelos mais diversos critérios. O que tem “Sonhos Elétricos” de novo? É que não é mais do que o conjunto de contos que serviu de base aos episódios da série “Electric Dreams” (estrada em 2017 no Channel 4 britânico), juntando a cada texto uma nota introdutória por figuras ligadas às respetivas adaptações. A série, que junta entre outros nomes as presenças de Tomothy Spall, Geraldine Chaplin, Janélle Monae ou Steve Buscemi no elenco – que varia a cada episódio já que cada um decorre de um conto distinto – serve assim de agregador de narrativas que, agora, e como consequência das imagens, chegam a este livro. – N.G.

1 Comment on Os melhores livros de 2018 (nº 1)

  1. Cristiano Quingalo // Março 3, 2019 às 6:43 pm // Responder

    Medo-Trump na casa branca, parece um livro cheio de suspense e segredo gostaria de o ler para saber mais.

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