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Um retrato dos Kraftwerk em 10 temas

Texto: NUNO GALOPIM

A antecipar uma integral da obra dos Kraftwerk que a Máquina de Escrever irá apresentar, fica aqui uma playlist de dez temas que fazem um retrato (possível) da sua música.

Perante a notícia do regresso dos Kraftwerk a Portugal há que começar a preparar uma “revisão da matéria dada”. Em breve aqui iniciaremos um fio-a-pavio da discografia do grupo, recordando a totalidade dos seus álbuns um a um. Para já fica um aperitivo numa seleção (entre as muitas que poderiam ser feiras) de dez temas para um retrato rápido do grupo. Seleção que deixa de parte os álbuns pré-Autobahn, o que não os menoriza historicamente, mas convenhamos que não representam o que de mais marcante a sua discografia nos trouxe. A seleção tenta passar por todos os álbuns pós-Autobahn com, pelo menos, uma canção de cada, juntando no fim dois temas menos óbvios, mas que são afinal resultado de quem os escolhe. Porque as listas são mesmo isso: uma seleção assinada.

Kommetenmelodie 2 (1974)
Um dos temas do álbum Autobahn e talvez o primeiro mais evidente ensaio de aproximação ao formato da canção pop na obra do grupo. Chegou a ser editado como single em 1974 na Alemanha, ainda o sucesso do tema principal do álbum não era imaginado.

Radio-Activity (1975)
O tema-título do álbum de 1975 representava, mais que Autobahn, um focar de atenções no formato da canção pop (inclusivamente na sua duração). O duplo jogo de sentidos entre o universo da rádio e da radioatividade patente na canção foi desviado no sentido desta segunda realidade depois de 1990.

Trans Europe Express (1976)
Depois das auto-estradas e antes do ciclismo, mais uma composição sobre a arte de viajar e o movimento. A estrutura rítmica sugere a cadência da passagem das carruagens sobre um caminho de ferro. O tema refere David Bowie e Iggy Pop, sugerindo sinais de reconhecimento a importantes primeiros admiradores do grupo.

The Robots (1978)
Tema de abertura do álbum The Man Machine, disco fulcral na afirmação de uma primeira geração pop electrónica e verdadeira referência para toda a música pop que se fez depois. A canção vinca a ideia de convívio entre o homem e a máquina que a filosofia do grupo então tinha na sua carteira de trabalhos.

Computer Love (1981)
Se o álbum de 1978 havia explorado as relações entre o homem e a máquina, o disco de 1981 aprofundava essa mesma ligação procurando a expressão de sentimentos humanos através dos computadores. Vale a pena lembrar que por essa altura os computadores começavam a entrar nas nossas vidas.

Tour de France (1983)
Editado como single em 1983, acabando depois fora do álbum ao qual a canção estaria inicialmente associada – porque a música entretanto seguiu outro caminho – esta canção celebra o gosto pelo ciclismo que era de resto partilhado entre os elementos da formação clássica do grupo.

Music Non Stop (1986)
Em vez de Techno Pop, os trabalhos (longos) que conduziram os Kraftwerk à criação do sucessor de Computer World levou-os afinal a Electric Cafe, disco comercialmente menos bem sucedido mas musicalmente visionário, ensaiando novos caminhos mais minimalistas para a sua visão de canção electrónica.

Autobahn (1991)
Se em 1974 este tema, que dava título a um álbum marcante, expressava através da celebração das auto-estradas uma demanda de indentidade alemã pela música (um pouco como o surf o fizera para a Califórnia na música dos Beach Boys), em 1991 o grupo encontrou no álbum The Mix uma leitura mais compacta desta longa viagem, que de resto desde então corresponde à forma com que a apresenta ao vivo.

Antenna (1975)
A fechar esta lista dois temas menos óbvios, mas não menos importantes. Antenna, do alinhamento de Radio Activity, é uma canção pop que sublinha a leitura mais radiofónica (e menos por via das descobertas de Pierre e Marie Curie) do sentido do título do álbum. Foi o lado B do single Radio-Activity.

Showroom Dummies (1976)
Canção do álbum Trans Europe Express representa musicalmente uma das mais evidentes possíveis ligações dos Kraftwerk aos ensinamentos dos minimalistas norte-americanos. Ao mesmo tempo sugere a criação de manequins que o grupo começaria a usar em fotografias e ações promocionais pouco tempo depois. Foi single no Reino Unido e EUA e também em França, aí em versão traduzida como Les Manequins.

E agora podem ouvir…

4 Comments on Um retrato dos Kraftwerk em 10 temas

  1. Claro, uma escolha, qualquer que ela seja, põe-se sempre a geito para ser criticada. Neste pressuposto, eu teria preferido Franz Schubert a Showroom Dummies, na escolha de um tema alternativo do album TEE. Para compensar, gostei muito da escolha de Antenna, do Radio Activity. Agora imperdoável é mesmo The Model ter ficado de fora, é talvez o tema mais influente do KW.

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  2. Há coisas mais “imperdoáveis” na vida que deixar uma canção de fora numa playlist… (N.G.)

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    • sem dúvida, NG. desculpe se o tom do comentário possa ter parecido agreste, não era essa a ideia. estas coisas valem o que valem, e nem sequer, como esperei que se deduzisse pelo início do meu comentário, pretendi criticar a escolha. tenha paciência, tropecei na hipérbole 🙂

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  3. No problem… As escolhas podem ser criticadas sempre. Nada contra a crítica. Só achei o “imperdoável” excessivo… Já agora, o ‘The Model’ é até a minha canção preferida dos Kraftwerk (sobretudo na versão alemã). Mas desta vez ficou de fora… Hoje faria uma lista diferente. E amanhã outra ainda… As listas são isso mesmo: retratos de um momento. 🙂

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