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Entre os confins da mente

Texto: NUNO GALOPIM

A imaginação volta a ser o trunfo maior na nova longa metragem de animação digital da Pixar que, desta vez, nos leva a uma viagem ao interior dos nossos cérebros. “Divertida Mente” chega agora ao DVD e Blu-ray.

Há traduções boas, más e depois aquelas a que dizemos, simplesmente, “porquê?”… Chamar Divertida Mente a um filme como Inside-Out está longe se ser uma boa ideia. Até porque o ser “divertido” é ali apenas uma quinta parte de um todo no qual, como o filme deixa bem claro, as outras quatro têm o seu peso, cabendo mesmo à “tristeza” (que age nos antípodas do que supostamente é divertido) uma palavra a dizer para que a equação final funcione bem…

Divertida Mente é a mais recente longa metragem da Pixar e renova o que filmes como Monstros e Companhia ou Wall-e já antes ali tinham mostrado haver: imaginação. E mostra sobretudo como uma mesma narrativa pode comportar vários níveis de leitura, funcionando a sua relação com vários públicos de forma inclusiva. Ou seja, ninguém fica de fora.

O filme, realizado por Pete Docter – o mesmo de Monstros e Companhia e Up – tem como mérito maior a ideia da história em si, que nos transporta para um plano de abstração invulgar no espaço da animação, resolvendo contudo os desafios de uma viagem aos confins da mente através da materialização de uma série de conceitos e realidades, dos amigos imaginários ao subconsciente, não faltando uma fábrica de sonhos que é uma mini-Hollywood que entra em funcionamento nas horas do sono.

Em traços largos acompanhamos o momento da mudança de casa, do Minnesota para a Califórnia (para São Francisco especificamente) de uma menina e seus pais. A nova casa, a nova escola, as memórias e as saudades são-nos apresentadas de um ponto de vista interior. Ou seja, de um quartel general localizado no seu cérebro, que regista e arquiva memórias, e comanda as reações através dos seus cinco operadores: alegria, tristeza, repulsa, medo e raiva. Um pequeno acidente de gestão neste espaço de azáfama – no qual a alegria é tão estridentemente efusiva que procura sempre ultrapassar as ações dos demais colegas (às vezes parece aquelas vendedoras de banha da cobra) – gera uma sucessão de avarias e colapsos… A narrativa evolui então mostrando quão complexo é o cocktail de argumentos que gere os nossos atos e pensamentos. E no fim, mais até que pensar no percurso (e destino) da pequena Riley, damos a pensar naquilo que somos.

Depois de uma sucessão de títulos menores, a Pixar retoma aqui um patamar de excelência de ideias de escrita de argumento e até mesmo de realização, não esgotando no primado do domínio das técnicas de animação digital os seus trunfos (como sucedera nos seus mais recentes filmes).

Como já é tradição em filmes da Pixar, vale a pena resistir ao impulso de sair da sala mal os créditos começam a surgir no ecrã. Sem fazer spoiler, há “variações” em torno do tema do filme que garantem um bom rol de gargalhadas antes de sair da sala. Já agora, se chgarem tarde não perdem nada. Lava, a curta que precede o filme, é um romance pop havaiano para um vulcão e sua companheira que até podia ser interessante caso a canção chatinha não dominasse o filme de fio a pavio.

2 Comments on Entre os confins da mente

  1. Parabéns pela critica.
    Ontem fomos em família ver este filme e concordo a 100% com esta analise. É um filme inteligente, sensível e científico (quem diria…)
    Vimos a versão dobrada e o trabalho feito pelos portugueses é excelente (Custódia Galego no papel de Tristeza é magistral). Não saiam sem ver a parte dos créditos finais (hilariante)

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  2. Eu amei o Inside Out 5* e também o Lava: 5*

    “Lava” é um filme comovente e amoroso, recomendo vivamente.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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