Um olhar pacifista sobre a I Guerra Mundial
A passagem dos cem anos sobre a eclosão da I Guerra Mundial devolveu (ou colocou) no mercado de home video títulos que representam as primeiras investidas do cinema de ficção pelo grande conflito. Assim, e depois de em 2013 alguns mercados terem acolhido uma edição em Blu-ray do (muito influente) The Big Parade (1925) de King Vidor e de, em inícios de 2014, a série Artificial Eye ter apresentado uma versão restaurada (em DVD e Blu-ray) do também histórico Wings, de William A. Wellman, eis que ao circuito nacional de DVD chegou – entre as muitas reedições lançadas na reta final do ano – o assombroso A Oeste Nada de Novo, filme de 1930 de Lewis Milestone que valeu ao realizador o Oscar de Melhor Filme, arrebatando também a estatueta para Outstanding Production (designação usada nos anos 30 para a categoria que hoje referimos como Melhor Filme).
Eram ainda recentes as memórias (e feridas) da I Guerra Mundial quando o ex-veterano alemão Erich Maria Remarque publicou o romance A Oeste Nada de Novo, um olhar realista (e vivido) do quotidiano entre trincheiras que revelava um discurso profundamente pacifista. É baseado nesse relato de quem por ali passou que Lewis Milestone nos conta a história de um grupo de jovens estudantes alemães que, depois de alistados para combater, partem em clima de efusivo idealismo, a realidade que depois encontram no campo de batalha transformando o seu dia a dia num espaço de desolação, desencanto e medo, colocando acima de tudo o desejo de sobreviver.
Se no livro Milestone encontrou uma narrativa poderosa, a sua adaptação ao grande ecrã revelou uma verdadeira coleção de ideias que hoje moram na história do cinema. A sequência em que o protagonista convive com um inimigo morto dentro de uma cratera causada por uma explosão. O bombardeamento a um cemitério que revela a morte por baixo e por cima da terra. Ou um encontro num café, em noite de licença gozada na cidade, onde a efusiva atitude patriota e belicista de quem não usa farda contrasta com o silêncio cabisbaixo de quem sabe que regressará à frente de combate muito em breve… Com uma noção soberba de enquadramento e mise-em-scène e um trabalho de montagem ritmado e expressivo (e vale a pena lembrar que o visionário O Homem da Câmara de Filmar de Vertov datava do ano anterior), A Oeste Nada de Novo aliou uma atitude política a um quadro narrativo e visual pensado na linha da frente de um cinema que então inventava novos caminhos. – Nuno Galopim
‘A Oeste Nada de Novo’
de Lewis Milestone
DVD, Universal ( 5 / 5 )
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