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Um problema de matemática pode ajudar a contar a nossa História

Texto: NUNO GALOPIM

A partir de peças do Museu Britânico, abarcando dois milhões de anos de História e procurando representar todo o globo surge ‘Uma História do Mundo em 100 Objetos’, da autoria do diretor do museu.

O Papiro Matemático de Rhind

O problema foi enunciado há pouco mais de 3500 anos. “Em sete casas há sete gatos. Cada gato apanha sete ratos. Se cada rato comer sete espigas e, se cada espiga semeada produzir sete alqueires, qual é a soma total?”… Este é um dos problemas matemáticos que, no ano 1550 a.C. ficaram registados no hoje célebre Papiro Matemático de Rhind, achado em Tebas (perto da atual Luxor), no Egito. Este e outros problemas, com as respetivas respostas, revelam o pensamento matemático dos antigos egípcios. Não se tratava assim de uma reflecção abstracta, mas sim um problema real, com o qual poderiam lidar os funcionários encarregues da gestão de bens e tesouros, mas também da justiça. E por isso mesmo há cálculos sobre quantos litros de cerveja ou número de pães poderiam ser obtidos a partir de quantos grãos de cereais, e calcular também se tanto a cerveja como o pão não foram adulterados. Ou se explica como calcular o declive de uma pirâmide ou as quantidades de comida necessária para as várias espécies de aves domésticas.

Os 84 problemas registados no Papiro de Rhind, todos eles focados em questões administrativas práticas, está apresentado não em hieróglifos mas num cursivo mais rápido de escrever. Está escrito a negro, o vermelho indicando o título das perguntas e as respostas. Deveria ter uns cinco metros (enrolados) na sua extensão original, está agora dividido em três pedaços. E, por ser extremamente sensível à humidade, está hoje guardado na sala dos papiros do Museu Britânico.

Foi esta morada atual que o fez integrar o conjunto de cem peças que agora encontramos em Uma História do Mundo em 100 Objetos, livro de Neil MacGregor (atual diretor do British Museum e antigo responsável pela National Gallery) que a Temas & Debates lançou entre nós numa tradução de José Guardado Moreira.

O livro é, na verdade, o somatório de uma série de “palestras radiofónicas” emitidas em 2010 pela BBC e tendo a coleção do Museu Britânico como matéria prima. Profissionais do museu ou da estação de rádio envolvidos no projeto fariam a escolha de objetos que abrangessem a história humana desde o começo, tentando representar todo o globo. Os objetos “teriam de dizer respeito a todos os possíveis aspetos da experiência humana, e contar-nos coisas das sociedades em geral, não somente dos ricos e poderosos”, como se explica no Prefácio. E agora ei-los reunidos, uns contando histórias do quotidiano, outros revelando expressões da criação artística.

Da remota Pedra de Olduvai, com perto de dois milhões de anos (achada na Tanzânia) à lâmpada e carregadores solares fabricados na China em 2010, os cem “objetos” são motivos para contar, afinal, quem somos. Entre peças célebres, como a Pedra de Roseta, objetos de grandes dimensões, como a Hoa Hakananai’a (estátua encontrada na Ilha de Páscoa ou simples expressões de um tempo, como uma moeda desfigurada por uma sufragista, encontra-se aqui uma outra forma de contar episódios da história da humanidade.

“Uma História do Mundo em 100 Objetos”
de Neil MacGregor
Temas & Debates, 661 páginas
ISBN 9789896442781

PS. A resposta ao problema dos gatos e dos ratos é 19607… (o valor vem indicado no livro, mas fiz as contas e confirmei).

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