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Este é o nosso corpo…

Texto: NUNO GALOPIM

Um professor de Biologia Evolutiva Humana apresenta em ‘A História do Corpo Humano’ uma narrativa fluente e clara sobre como a história da humanidade fez de nós o que somos biologicamente.

Quantas vezes a história do desenvolvimento da tecnologia foi determinante para a evolução da qualidade de vida do ser humano? Ao mesmo tempo, quantas foram também as ocasiões em que novos passos no processo evolutivo da nossa vida em sociedade e do nosso relacionamento com os outros, com as máquinas e demais criações do génio humano foram também motor de novos problemas? No seu livro A História do Corpo Humano, o professor de Biologia Evolutiva e Humana em Harvard, Daniel E. Lieberman conta-nos o era uma vez da nossa espécie, olhando ao detalhe, mas com um saber fluente na comunicação, os mais variados episódios da história do nosso corpo.

A arrumação cronológica das ideias apresentadas começa por nos levar ao aparecimento dos primeiros hominídeos, falando das conquistas que a postura bípede trouxe e notando que foram os australopitecos quem, “em parte” nos “desmamou” da fruta. Liebeman avança no tempo explicando como evoluíram os caçadores-recoletores e, como eles foram desenvolvendo os cérebros, adquirindo corpos cada vez maiores. Com “músculos e inteligência” os seres humanos conquistaram o mundo.

A história da sedentarização das primeiras comunidades agrícolas – notando-se que muitas das primeiras experiências de cultivo se faziam por ensaio e erro, longe ainda de um saber sobre sementeiras, regas, adubagens e colheitas – ocupa a segunda parte do livro. É nesta etapa da nossa existência enquanto espécie que surgem as primeiras grandes doenças e epidemias, como consequência dos novos hábitos de vida. Como explica o autor, nas pequenas comunidades de caçadores-recoletores nem havia número de indivíduos nem a sua vida se fazia concentrada num mesmo lugar a ponto de permitir o eventual eclodir de doenças. A falta de possibilidade de mecanismos de contagio maiores circunscreviam eventuais acontecimentos a pequenos grupos. O livro repara que são, de resto, os hábitos de vida com animais por perto – como a lepra face ao búfalo asiático ou a influenza dos porcos e patos – que asseguram as primeiras transmissões aos seres humanos de bactérias e vírus que, com uma população maior ao seu redor, contaminavam corpos e partiam rumo a novos hospedeiros, lançando nas primeiras aldeias e cidades os primeiros casos de epidemias. Lieberman nota ainda que a mudança de hábitos alimentares na passagem de modos de vida nómada dos caçadores-recoletores para os grupos agrícolas e sedentários aumentou o número de cáries.

Na terceira e última parte do livro abordam-se as grandes mudanças da era industrial, da propensão do corpo humano para os pneus às mudanças de hábitos de sono que chegaram, estas últimas, como o advento da luz artificial e o aparecimento e expansão de atividades noturnas.

A História do Corpo Humano dá-nos, em perto de 550 páginas, uma narrativa clara, bem informada e com um ritmo de contador de histórias bem oleado, de uma aventura que tem o nosso corpo por protagonista. Uma outra maneira de contar a história daquilo que somos, portanto.

“A História do Corpo Humano”
Daniel E. Lieberman
Temas & Debates, 545 páginas
ISBN 9789896443177

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