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O ‘bluff’ de David Lynch

Texto: JOHN GONÇALVES

Há um mês e meio David Lynch escreveu um post no seu Facebook no qual dizia:

“Dear Facebook Friends, Showtime did not pull the plug on Twin Peaks. After 1 year and 4 months of negotiations, I left because not enough money was offered to do the script the way I felt it needed to be done. This weekend I started to call actors to let them know I would not be directing. Twin Peaks may still be very much alive at Showtime. I love the world of Twin Peaks and wish things could have worked out differently.”

Obviamente este pequeno texto de David Lynch lançou todo o universo “Lynchiano” em alvoroço e estas palavras foram amplificadas por todo o mundo.

Sou fã da famosa série e, como muitos milhões espalhados pelo mundo, rejubilei de alegria quando o canal ShowTime anunciou que ia produzir uma nova série de Twin Peaks, com os mesmos actores e com o mesmo realizador exactamente 25 anos depois da estreia da original.

O que se confirmou então nesse dia 7 de Abril é que ninguém tinha falado de dinheiro…

Mas isto é mesmo verdade? A este nível isto seria possível de acontecer? Sim é possível e até se entende.

Anuncia-se o retorno da série com pompa e circunstância, fazem-se as campanhas de “social media” e de promoção disparar a noticia e espera-se que investidores se juntem ao canal para viabilizar um projecto obviamente caro.

Não é a primeira vez que isto acontece no meio audiovisual e não é a primeira que se cancelam projectos já anunciados, mas é a primeira vez que se cancela algo tão forte e com tanto mediatismo no Facebook do principal criador do produto.

Mais, ficamos a saber que, tal como Steve Jobs se viu despedido da sua própria empresa, David Lynch despediu-se do seu Twin Peaks mas deixou em aberto que a série fosse realizada por outras pessoas, mostrando um savoir faire e fair play pouco comum em artistas tão seguros do seu trabalho.

David Lynch tem 68 anos e alem de escritor, realizador, actor e produtor é também músico, artista plástico, mantendo uma produção artística constante e aplaudida nos cinco cantos do planeta.

Nessa semana de Abril foi muito interessante ler como os mais jovens reagiram a esta decisão sua. Muitos apenas terão visto a serie há pouco tempo, mas assim mesmo prestam reverência à figura de David Lynch e à importância do seu legado nas séries que hoje marcam o que de melhor se faz no audiovisual norte-americano.

Mais, a campanha “pro David Lynch voltar ao projecto Twin Peaks” nas redes sociais deixou a nu o ridículo e a má publicidade (sim, existe tal coisa como má publicidade) de avançar sem ter David Lynch no projecto, isto sem esquecer a desmotivação completa de actores e equipa de produção, depois de quase um ano e meio de trabalho já efectuado.

Nesse mesmo dia, um amigo meu mais habituado a estas lides de negociação e aos famosos bluffs de estúdios, realizadores ou argumentistas alertou-me para o facto (possível) de que tudo isto fosse uma manobra para trazer mais dinheiro de investidores para o projecto ou até pressionar os investidores já existentes para investirem um pouco mais.

Na prática mais vale ter um investimento superior com David Lynch, do que ter um investimento menor sem o grande mentor e mestre da série a bordo.

A verdade é que na semana passada David Lynch, usou a mesma rede social de há seis semanas para afinal confirmar que ele está novamente na equipa.

Mesmo sendo comum haver bluffs nas mesas de negociação de programas de televisão, de filmes ou de discos é a primeira vez que um é jogado na mesa das redes sociais, com toda a sua a pressão.

Afinal o genial artista David Lynch prova que também se pode ser genial no marketing e nos negócios. E isto até faz sentido, porque a inteligência duma pessoa é parte integrante da sua personalidade.

Não há uma inteligência artística separada duma inteligência pessoal e por muito que se diga que o verdadeiro artista não se mete nos “números” a história diz o contrario. Cada vez mais o artista mete-se nos números e no marketing!

Todos os grandes artistas souberam num determinado momento assumir a gestão da sua carreira ou, pelo menos, assumir para si as grandes decisões estratégicas, independentemente de ter uma equipa forte nessa área.

David Lynch há muito que o fazia mas nunca de maneira tão forte, pública e aberta como agora.

E ele é nem mais nem menos que o verdadeiro artista!

Bem vindo David Lynch! O plano deu certo!

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