Um reencontro com Sibelius, via Detroit
Texto: NUNO GALOPIM
Depois do jazz e das memórias vintage da cultura pop/rock, é agora vez dos arquivos de gravações de música clássica se juntarem aos planos de reedições em vinil conduzidos pelas próprias editoras detentoras de catálogos que, deste modo, conhecem uma nova vida. Entre o mais recente lote de reedições no formato de LP de títulos do grupo Universal contam-se momentos da série ‘Mercury Living Presence’, que animou em tempos a Mercury Records, e que teve no maestro e compositor francês Paul Paray uma das suas estrelas.
Nascido em França em 1886, este veterano da I Guerra Mundial encetou uma importante etapa na sua vida profissional em 1939, ano em que se radicou nos EUA, onde se manteria ativo até 1963. Durante grande parte desse período esteve à frente da Detroit Symphony Orchestra, com a qual registou esta soberba e viva interpretação da Sinfonia Nº 2 de Sibelius em 1960. A gravação fez-se usando o então célebre estúdio móvel da Mercury, que permitia assim às orquestras gravar repertório nas suas próprias salas de concerto, dispensando assim uma mais dispendiosa política de recurso a estúdios. Como o próprio texto no verso da capa descreve, o grande camião, munido de centenas de metros de cabos, instalou-se junto ao Auditório Henry e Edsel Ford, a sede da orquestra. A cuidada instalação de microfones permitiu que os músicos da orquestra tomassem os seus lugares habituais no palco. A equipa técnica e a de direção artística acompanharam as gravações em salas transformadas em régies temporárias, a primeira num piso inferior, a segunda um pouco mais acima.
O resultado é uma vibrante interpretação de uma sinfonia que há muito é reconhecida como sendo uma das mais significativas da obra de Jean Sibelius (1865-1957) e na qual, por muito que o compositor tivesse sempre resistido à sugestão de que escondesse em si conteúdos programáticos, muitos nela identificaram marcas de vivências e da história finlandesas, o que lhe conferiu um estatuto de símbolo nacional.
Da sinfonia, estreada em 1902, vale a pena lembrar que representa uma das primeiras manifestações de demanda de um corpo de maior fôlego por um compositor que, por aquela altura, era já reconhecido pelos diversos poemas sinfónicos que assinara (em alguns vincando claramente uma identidade finlandesa). A obra nasceu na sequência de uma temporada vivida em Itália sob apoio financeiro de um mecenas, a quem a sinfonia seria depois dedicada.
Esta gravação de 1960 da Sinfonia Nº 2 em ré Maior, Op. 43 de Sibelius pela Orquestra Sinfónica de Detroit, dirigida por Paul Paray, está novamente disponível em LP numa edição da Decca Classics.
Deixe uma Resposta