Quando as ideias se perdem no nevoeiro
Texto: RUI ALVES DE SOUSA
Quando começa, As Nuvens de Sils Maria parece que tem tudo para dar certo: na era moderna vemos uma atriz perturbada pelo seu próprio êxito (Juliette Binoche), que se vê confrontada com o passado e com uma nova versão da peça que a tornou numa estrela, 20 anos antes. Guiada pela sua manager (Kristen Stewart a fazer o ar de “frete” habitual), a artista tenta controlar a dor dos sentimentos perdidos com a solidão psicológica do presente. Dito deste modo, fica-se mesmo com a impressão de que Olivier Assayas nos quer apresentar uma história sobre o passado e o presente da Arte, e das relações intrínsecas que se criam entre a ilusão do palco e a desilusão da existência.
Mas tudo isto evolui apenas para uma sucessão de conversas dispersas que não atam nem desatam (apesar de quererem “atacar” alguns pontos fulcrais da cultura moderna), ambientadas por belas paisagens e por algumas soluções fáceis que desenvolvem a história com fragilidade – através de uma “camuflagem intelectual” que depressa agrada aos críticos, mas que não consegue substituir a verdadeira eficácia da estrutura de um filme. Esses momentos mal articulados de cavaqueira querem parecer uma desculpa para a falta de inspiração de As Nuvens de Sils Maria, tal como demonstram, também, os momentos aleatórios apresentados do ensaio da peça (como se, para se falar de teatro no grande ecrã, bastasse filmá-lo sem qualquer cuidado ou qualquer intenção crítica ou criativa).
As Nuvens de Sils Maria elabora, por isso, uma narrativa fragmentada que se perde nas suas próprias potencialidades. Tantas coisas boas poderiam ser feitas a partir deste mote, mas Assayas acabou por fazer um filme superficial, que nada revela sobre as suas personagens e o estranho mundo em que elas habitam, e que não consegue sequer espetar “alfinetadas” decentes nos setores do espetáculo que pretende criticar em alguns momentos de discussão entre Binoche e Stewart.
Não é um filme que impressione ou que incomode, mas uma vulgar obra pretensiosa que não sabe gerir as suas capacidades, sendo apanhada na sua própria armadilha, e que deixa uma enorme sensação de indiferença e de desinteresse pelas imagens filmadas com todo o cuidado estético, mas sem qualquer outra dimensão. Ao querer impor tantas marcas de estilo falhadas, Assayas não consegue realmente concretizar nenhuma ideia relevante.
No entanto, é Binoche quem salva o dia, com os seus gestos e atitudes que compõem uma bela interpretação de uma atriz falhada psicológica e socialmente, e que nos consegue cativar o suficiente para conseguir aguentar cada cena e cada passo em falso de Assayas e dos outros atores do elenco.
No final, fica-se com uma ideia de As Nuvens de Sils Maria que é semelhante a uma frase da personagem de Kristen Stewart, numa dessas múltiplas cenas de conversa que estabelece com a protagonista: se os filmes de super-heróis (personificados pelo subplot em que surge Chlöe Grace Moretz, que faz uma espécie de confronto geracional com Binoche) são vagos e esgotados no seu próprio formato, também os filmes sérios podem sofrer do mesmo problema – e aqui encontramos um tipo de cinema superficial e inócuo que também não consegue funcionar, por mais inteligência e brilhantismo forçados que se queiram incutir nos diálogos e nas situações da narrativa. Parece um filme falsamente intelectual, porque tal como esses blockbusters que se movimentam em tons de videojogo, não consegue suscitar nada na mente do espectador.
As Nuvens de Sils Maria
Realizador: Olivier Assayas
Elenco: Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chlöe Grace Moretz
Distribuidora: Medeia Filmes
2 / 5

“As Nuvens de Sils Maria”: 2*
“As Nuvens de Sils Maria” deixou algo a desejar e deixou-me com um sabor amargo na boca.
“Clouds of Sils Maria” deu-me sono e cheguei a adormecer numa ou outra cena.
Cumprimentos, Frederico Daniel aka Os Filmes de Frederico Daniel.
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