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Chegou o outono!

Texto: NUNO GALOPIM

Ao 11º álbum de estúdio os norte-americanos Low mantém a fidelidade às suas marcas de identidade mas aprofundam o labor num trabalho cénico onde discretas eletrónicas revelam novos detalhes para saborear.

É bem verdade que não há coisa mais limitada e redutora que a aplicação de um rótulo a uma obra (não apenas na música). E não foram poucas as vezes em que, com razão, muitos artistas tentam argumentar ou, pelo menos, contrariar, essa tendência de transformar o mundo da criação em objeto de sistematização como o fez Lineu ao mundo natural… Mas há por vezes palavras ou expressões que se aplicam bem ao universo que querem ajudar a sistematizar ou, pelo menos, descrever. E ao reencontrar os Low naquele que é o seu 11º álbum de estúdio, a ideia de lhes associar a expressão “slow core” (que ao que parece não gostam) volta a fazer sentido. Estamos uma vez mais perante uma música tão lenta quanto intensa. E agora, 21 anos volvidos sobre a sua estreia naquele maravilhoso I Could Live in Hope que os revelou em 1994, a estas premissas formais e emocionais que se mantém vivas, juntam a solidez de uma escrita apurada e depurada por anos de uma demanda que soube aqui vincar um caminho (o que não significa que não tenha havido ensaios ao seu redor), deixando para projetos paralelos outras aventuras por outros terrenos, como que preservando assim a ideia de um corpo coeso bem definido quando chega a hora de gravar como Low.

A progressiva experimentação e integração de novas referências musicais e elementos instrumentais (nomeadamente discretas texturas electrónicas que hoje ajudam a definir a cenografia de algumas das canções) tem garantido aos Low uma suave, mas sólida maturação da sua identidade sem contudo contrariar a essência dessa alma implosiva e melancólica, apoiada na reverberação das guitarras e na força dos frequentes momentos de harmonias vocais de Alan Sparhawk e Mimi Parker que cruzam toda uma obra de rara coesão.

Sem causar uma revolução maior face ao corpo da obra do trio (no qual o baixista Steve Garrington, ali chegado em 2008 é hoje um sólido terceiro elemento), Ones and Sixes é contudo um dos discos dos Low nos quais mais borbulha uma vontade em vincar novas ideias. Há poucos anos, em Drums and Guns (de 2007), expressavam esse desejo no seu lote de canções de perfil mais político de sempre. Aqui revelam antes um desejo maior do que nunca no trabalhar do detalhe cenográfico, aprumando as filigranas de discretos acontecimentos electrónicos que servem de tela à evolução das canções, o que não implica, como se escuta no tenso e intenso Landslide, que tenham desistido da sua histórica relação mais próxima com as guitarras, aliás bem presentes ao logo do disco.

Este é um disco de clara maturidade de uma personalidade que, sem contrariar o que foi, acredita que pode ainda dialogar com o presente, evitando rumar em frente de costas voltadas para o futuro. Pelo contrário, e num conjunto de canções de temas mais pessoais, por vezes mesmo autobiográficos, encontramos uns Low naquele estado de veterania pouco confortável com a ideia de viver em clima de nostalgia. E é tão bom quando, junto a veteranos, reconhecemos que sabem manter a sua identidade firme, ao mesmo tempo ensaiando (para si e para nós) a ideia da descoberta e surpresa. Música outonal para receber a chegada da nova estação. E um belo disco!

Low
“Ones and Sixes”
Sub Pop
4 / 5

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