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O Portugal de que nos esquecemos

Texto: PEDRO GARCIA

Estreou no DocLisboa o documentário “Portugal – Um Dia de Cada Vez”, de João Canijo e de Anabela Moreira, uma incursão às terras frias de Trás-os-Montes.

Daquilo que seria a pesquisa de preparação para um outro projecto de João Canijo ambientado em Trás-os-Montes, acabou por nascer um documentário que mostra aquilo que as margens urbanas do País convencionaram chamar de Portugal profundo.

E, apesar de para lá do Marão mandarem os que lá estão, comprova-se que a coesão nacional está assegurada nas terras altas do território continental neste documentário tão português que mapeia as expectativas reais de quem vive numa zona tão periférica, arredada dos centros de decisão e de poder.

Através de uma galeria de personagens características das povoações que foram sendo visitadas pelos realizadores, revelam-se as referências de Trás-os-Montes (os “franceses”, o “amor à terra”, a religião). Canijo e Anabela Moreira souberam captar a religiosidade presente nas posturas de vida e nas procissões – religiosidade essa que convive com o cepticismo relativamente aos seus ministros (a discussão entre as duas senhoras sentadas num banco da aldeia é de antologia) – e o discurso de sofrimento e resignação dos mais velhos a par da alegria um pouco melancólica dos mais jovens.

A portugalidade está sempre presente nas histórias e envolventes: a senhora do café que fala do passado em África de forma desassombrada, a omnipresente televisão como pano de fundo e os omnipresentes enredos telenovelescos, o afecto por cantores populares, a devoção religiosa, a incompreensão pelas decisões do poder de Lisboa, ignorante das realidades do interior. Um ser português que se manifesta também em contraste com a imigração que chega a uma terra tradicionalmente de emigrantes, através do casal romeno, ele construtor civil, ela na colheita das uvas, deslocados da realidade daquela região e sempre com os olhos postos na vida do país de origem.

A opção por planos longos em algumas personagens faz desprender a melancolia, muito portuguesa mas ali em versão transmontana, da vida daquelas pessoas, dando azo a momentos de nota: uma ervanária muito veemente na promoção dos seus produtos ou a narração do plot de uma telenovela brasileira como se fosse um evento real.

Exibido no DocLisboa ‘15, o filme estreia no Cinema Ideal no dia 5 de Novembro.

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