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Um museu que nos conta quem somos

Texto: NUNO GALOPIM

Após o longo e profundo processo de remodelação, o Museu do Homem (em Paris) voltou a abrir as portas no Palais de Chaillot, onde mora desde os anos 30. A renovada Galerie de l’Homme merece uma visita.

Foto: N.G.

Quando Jacques Chirac levou cerca de 300 mil peças das coleções do Museu do Homem – uma entre as várias instituições que integram o Museu de História Natural parisiense – para o novo projeto etnográfico que entrertanto abriu portas no Quai Branly, o futuro da instituição há muito instalada numa das alas do Palais de Chaillot (no Trocadéro, de onde tantos viram há 15 anos o painel com a contagem decrescente para a chegada do ano 2000, então afixado na Torre Eiffel) parecia condenado a uma discreta saída de cena. A separação das coleções serviu contudo o nascimento de uma ideia. E dela, o renascimento do Museu do Homem, que há duas semanas reabriu as portas no mesmo edifício onde o conhecíamos, porém sujeito a uma remodelação arquitectónica não notória quanto nova é também a forma como, agora, ali se conta a história de quem somos, de onde vimos e para onde vamos.

De paredes brancas, lisas, os dois andares e mezzanine que fazem a nova Gallerie de L’Homme acolhem um percurso que começa por nos dar uma noção do património genético que partilhamos como espécie e parte, depois, rumo a uma representação da diversidade que a espécie humana entretanto conquistou através não apenas da sua dispersão geográfica mas também da sua história cultural. A museologia recorre (e muito bem) a novos sistemas de apresentação de imagem que apresentam pequenos e belos filmes que ajudam à construção da narrativa. Ao mesmo tempo há vitrinas no mais clássico sentido do termo. Grandes e espaçosas, escolhendo as peças que explicam o que se conta (numa lógica nos antípodas das montras de colecionismo que a expressão original desta mesma coleção em tempos conhecera). Passamos por instalações que dão conta da variedade dos idiomas falados (literalmente basta puxar uma das línguas numa parede para a “escutarmos”) ou das fisionomias que espelham a diversidade da espécie. E não falta uma cronologia da espécie humana, contada através dos achados de ossadas, desde os dias de Lucy (sim, está ali) ao crânio que identificou o homem de Cro-Magnon.

A expressão progressiva do génio humano apresenta-se primeiro através dos instrumentos em pedra, depois em pinturas rupestres, mais adiante em peças usadas na aurora do sedentarismo e da agricultura, logo a seguir mostrando primeiros sinais de um domínio diferente sobre os recursos minerais através quer da cerâmica quer do uso do bronze e ferro. O despertar de um pensamento estético está evidente num núcleo que junta algumas das primeiras “obras de arte” criadas, como a bela Vénus de Lespugue (com 23 mil anos). E o caminho completa-se rumo ao presente, usando algumas peças da coleção etnográfica que dão conta de como em vários lugares e épocas as mais diversas necessidades tiveram expressão.
A galeria fecha com um questionar do nosso presente e mesmo futuro. Ao vermos uma tradicional tenda que podemos achar no deserto mongol, onde não faltam plásticos ou uma televisão cores, fica claro como a globalização chegou às paragens mais remotas. Um boneco com o andróide C3P0, ao lado de uma incubadora e próteses espelham, por sua vez, uma idade em que a máquina ganhou um peso determinante junto do homem.

A completar a visita ao museu há pequenas mostras temporárias (uma delas dedicada ao próprio projeto de remodelação arquitectónica e museográfica) e uma varanda na qual, através de ecrãs, podemos aceder aos trabalhos de investigação em curso.

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